A história de como Curitiba se desenvolveu desde o século XIX até os dias de hoje pode ser conhecida de uma forma diferente, longe das salas de aula. Todos os meses, em noites de lua cheia, os portões do Cemitério Municipal São Francisco de Paula se abrem para a visita guiada noturna da Prefeitura de Curitiba. Ao caminhar pelas ruas e quadras do cemitério, é possível perceber as mudanças culturais ao longo dos anos, com a estética dos túmulos mais antigas e as mais atuais.
O Cemitério Municipal São Francisco de Paula é o equipamento público mais antigo de Curitiba, completou 170 anos em dezembro do ano passado. Entre seus muros, no espaço de 51.414 metros quadrados, estão 5.700 túmulos, mausoléus e verdadeiros monumentos arquitetônicos onde estão sepultadas personalidades que fazem parte da história de Curitiba, do Paraná e do Brasil.
A visita guiada noturna é produzida e conduzida pela pesquisadora cemiterial Clarissa Grassi, que estuda o Cemitério Municipal São Francisco de Paula há 21 anos. Os passeios são gratuitos e acontecem por quatro noites seguidas, de quarta a sábado, das 19h às 22h, sempre quando há lua cheia. As inscrições devem ser feitas pelo site Guia Curitiba e são limitadas a 60 por noite, para que todos possam ver de perto e conhecer mais sobre a história viva que está preservada no Cemitério Municipal.
Nesta semana estão acontecendo as primeiras visitas do ano. E todas as vagas para este ciclo já estão preenchidas. Na noite desta quarta-feira (12/2), os 60 inscritos compareceram e aprenderam como eram feitos os sepultamentos desde a época da Roma Antiga até os dias atuais.
Clarissa Grassi, pesquisadora cemiterial.
Resumo da cidade
“A visita guiada noturna é uma atividade de educação patrimonial. A intenção é demonstrar a capacidade do cemitério de ser um grande resumo simbólico da cidade de Curitiba. Aqui mostramos a história não só da cidade, mas das suas principais personalidades. Relembramos a trajetória dessas pessoas e os seus feitos em relação à cidade”, explicou a pesquisadora cemiterial Clarissa Grassi.
Ao caminhar pelo cemitério, as pessoas aprendem sobre a arquitetura dos túmulos, geologia, a simbologia que remete à religiosidade, esperança e a crença das pessoas que foram sepultadas ali, além da arte tumular que está presente em cada detalhe apresentado pela pesquisadora. Materiais vindos de Portugal, França e Itália podem ser encontrados nos locais onde estão sepultados o Barão do Serro Azul, a família Leão, João Moreira Garcez, membros das famílias Cini, Hermes Macedo, e Prosdócimo, por exemplo.
Olhar o nome das pessoas sepultadas é como viajar pelas principais ruas e avenidas que formam Curitiba, como os túmulos do Comendador Araújo, José Cândido Muricy, Augusto Stresser, Ermelino de Leão,Trajano Reis, Tobias de Macedo, José Hauer, Erasto Gaertner e André de Barros, este último monumento, feito pelo artista João Turin.
O memorial de Maria Bueno, considerada uma espécie de santa popular curitibana, é um dos pontos altos da visita guiada. Os túmulos de Enedina Alves Marques, primeira engenheira negra do Brasil, e da ex-primeira-dama Margarita Sansone, esposa do ex-prefeito Rafael Greca, também são apresentados durante a visita guiada.
Lúcia Duarte, de 31 anos, há tempos queria fazer a visita noturna guiada e nesta quarta-feira (12/2) conseguiu participar com as amigas.
“Vim para conhecer mais sobre a arquitetura e a história aqui do cemitério. Depois da visita a gente tem uma visão diferente daqui, tira essa sensação de medo e de terror. Essa é uma atividade cultural. Quando eu for em outras cidades vou olhar os cemitérios de uma forma diferente”, afirmou Lúcia.
Kenni Rogers Closs, 39, também saiu com outra visão do Cemitério Municipal São Francisco de Paula após participar da visita guiada noturna. “Eu vim para conhecer essa preservação das memórias da cidade. São muitas histórias de vida aqui reunidas, vou voltar durante o dia e ver novamente com calma tudo o que aprendemos.
Recomendo totalmente essa visita guiada. Aqui tiramos o peso da morte e celebramos a vida, a arte e a cultura”, contou o visitante Closs.
Todos que passaram pelo portão do Cemitério São Francisco de Paula, às 22h20 desta terça-feira (12/2), olharam de forma diferente para a Praça Padre João Sotto Maior, no São Francisco, com um sentido de pertencimento a algo maior que existe e está preservado em Curitiba.