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Pesquisador Marcos Juliano Ofenbock fala sobre o Pirata Zulmiro.
A história de Zulmiro, o pirata britânico que teria morado em Curitiba, mexe com o imaginário popular e até inspirou a Prefeitura a criar um parquinho temático. Agora, ganhou um novo capítulo. Isso porque servidores da Secretaria Municipal do Urbanismo (SMU) encontraram mais uma importante peça dessa história.
Trata-se do croqui do Lote 614, um documento oficial do município com mais de 100 anos. A peça virou um verdadeiro “mapa do tesouro” para quem pesquisa pistas e provas de que a história do ex-marinheiro britânico que virou um ladrão dos mares não é apenas uma lenda.
O Lote 614 foi encontrado pela equipe do Departamento de Cadastro Técnico (UCT) da SMU em seus arquivos, que ficam no Alto da Glória. A pesquisa, análise, catalogação, requalificação e digitalização dos documentos antigos do Urbanismo em Curitiba é uma das ações realizadas pela secretaria. Além de permitir tirar dúvidas técnicas sobre os lotes da cidade ao longo de 331 anos, o trabalho tem importante papel na preservação da história do município.
A servidora e engenheira cartógrafa Elza Kruchelski fez uma cópia do croqui resgatado e entregou ao pesquisador e escritor Marcos Juliano Ofenbock. Há 21 anos, ele busca provas concretas da existência do Pirata Zulmiro e de seu tesouro escondido.
“A Secretaria do Urbanismo se envolveu em uma caça ao tesouro de verdade e achou uma parte dele: a História, colaborando para enraizar na realidade o que já foi apenas uma lenda. A gentileza de me presentear com uma cópia do Lote 614 gerou um outro processo de descobertas. A partir do croqui, eu e outros pesquisadores encontramos outros documentos e mais respostas”, contou Ofenbock.
Curiosidade e História
A busca pelo documento nasceu da curiosidade da servidora Elza. Após ouvir um podcast sobre o pirata, em que o pesquisador Ofenbock comentou sobre o lote, a engenheira decidiu procurar o documento. Com apoio da equipe do UCT, ela encontrou o mapa que, posteriormente, ajudou na localização do Lote 614.
Feito em um material que lembra um tecido fino, o mapa tem o tamanho similar a uma folha A0 (84cm x 118cm). Através dele, foi possível chegar ao croqui. Este, em papel manteiga e redigido com nanquim, traz, em traços vermelhos, o que seriam os limites das terras que pertenciam a João Francisco Inglez, o pirata Zulmiro. O documento, referente a uma área de 49,8 mil m² no bairro Pilarzinho foi registrado na Prefeitura em novembro de 1923. Mas, estima-se, é uma transcrição de um documento mais antigo.
“É uma área grande, envolve muitos lotes atuais e é difícil confirmar com exatidão o local em que ele morou”, explicou a servidora.
João Francisco Inglez foi o nome que o Pirata Zulmiro teria adotado ao chegar no Brasil. É uma versão meio aportuguesada do nome inglês de batismo: John Francis Hodder.
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Engenheira cartógrafa Elza Kruchelski.
Novos capítulos
O pesquisador Marcos Juliano Ofenbock conta que suas pesquisas ganharam fôlego a partir do croqui. E a história do João Inglez, novos capítulos.
“Mandei tudo o que tinha encontrado, inclusive o mapa, para outro pesquisador, o Paulo Henrique Colombo, e encontramos outros documentos, anteriores a 1871. Um deles era a solicitação do ex-pirata de um terreno para lavoura, onde hoje é um conjunto habitacional construído na década de 1950”, exemplificou.
A partir daí, as descobertas só foram aumentando. Entre os novos papéis encontrados está uma certidão em que Zulmiro renuncia à religião anglicana para se casar na igreja católica com uma menina de 14 anos, chamada Rita. O documento, datado de janeiro de 1829 e assinado com o nome de “John Francisco” é, até hoje, o mais antigo já encontrado com a assinatura do pirata.
Em seus trabalhos, os pesquisadores descobriram ainda que João Francisco foi jornaleiro e teve dois filhos. No Censo de 1836, consta que ele ainda estava na região do Pilarzinho, plantando milho e feijão. As novas informações se juntaram a achados anteriores, como o registro da morte de um “João Francisco Inglez”, em 1889, aos 90 anos.
Ilha do tesouro
A magia em torno da história do Pirata Zulmiro e seu tesouro escondido no litoral brasileiro movimenta profissionais de várias áreas. Ofenbock segue em busca de ajuda para tentar resgatar as riquezas que teriam sido saqueadas de um navio espanhol e enterradas na Ilha da Trindade, no Espírito Santo.
Diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR), ele já arregimentou instituições como a Marinha do Brasil, o Consulado Britânico e a Universidade Federal do Paraná (UFPR) para uma expedição de caça ao tesouro na ilha, o ponto mais a leste do território brasileiro, a mil quilômetros do litoral capixaba.
Após visitas de reconhecimento feitas no local – que tem acesso exclusivo a pesquisadores e jornalistas – Ofenbock lidera um processo de pedido de autorização ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para a caça ao tesouro, prevista para 2027.