O cabelo na altura do ombro de Elisabete de Fátima Camargo revela a transformação da servidora que ingressou no quadro da Prefeitura de Curitiba antes de completar 17 anos de idade. Aos 62, Beta, como é chamada por todos, comemorou no primeiro dia de março 46 anos de trabalho como servidora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). Ela é a servidora que trabalha há mais tempo no Prefeitura de Curitiba, e é uma das 21 mil mulheres que ajudam a contar a história da capital com o seu trabalho.
“A Prefeitura de Curitiba foi o meu primeiro e único trabalho, a vida inteira. Quando entrei, em 1976, eu era marcada por aquele cabelão que foi embora com os anos. Hoje, tanta coisa mudou e eu nem sinto que faz tanto tempo”, declara.
Ela ingressou no quadro como perfuradora, passou a digitadora, auxiliar de processamento de dados e atualmente pertence à carreira de técnica em processamento. Começou a trabalhar no Centro de Processamento de Dados do Ippuc, atualmente integra a equipe da área de geoprocessamento e secretaria a Diretoria de Informações.
A perfuração de cartões, sua atividade de estreia, era usada na área de informática no século passado. Os cartões perfurados passavam por leitoras de cartões e as informações eram processadas por um grande computador que armazenava dados de toda a Prefeitura (mainframe). Na época, não havia computadores pessoais para os servidores e impressoras como as de hoje.
O contato com o universo de processamento de dados fez com que se interessasse pela área de informática bem jovem. Ela fez curso de técnica em processamento de dados e também de secretariado.
Mulheres no caminho
"Do início da minha carreira pra cá, as mulheres têm conquistado os seus espaços e crescido no mercado e isso é muito bom", declara ela, que viu muitas transformações na Prefeitura e na cidade. Já naquela época, Beta trabalhava ao lado de muitas mulheres.
“Com o trabalho todos esses anos, conquistei minha independência e autonomia, pude ajudar minha família. Muitas mulheres passaram pela minha vida. No Ippuc, aprendi muitas coisas e digo que devo muito do que eu sou a elas também", completa.
Atualmente, no Ippuc, quatro das cinco diretorias são lideradas por mulheres. Dos 196 servidores ativos, 93 são mulheres. Entre os 17 estagiários, predominam as mulheres, que são 15.
A mãe de Beta, Therezinha de Jesus, que sempre foi dona de casa, também teve importante papel. Quando nasceu o primeiro filho de Beta, a servidora chegou a pensar em ficar em casa apenas cuidando da família. A mãe insistiu para que a filha continuasse trabalhando fora e garantiu o auxílio que trouxe tranquilidade. “Ela disse que seria uma pena parar, já que ela poderia ajudar”, lembra.
Mesmo podendo se aposentar desde 2008, Beta diz que não pretende parar. “Aqui criei amizades, vínculos e construí minha independência como mulher”.
Os servidores que trabalham com ela dizem: "Você poderia ter uma plaquinha de patrimônio nosso”. Como mulher à frente do seu tempo, Beta responde: “Só se for um chip, plaquinha já é coisa antiga”, brinca.