A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Curitiba alerta para o mês de conscientização e prevenção da hanseníase, o “Janeiro Roxo”. O objetivo do movimento é estimular o diagnóstico precoce para evitar complicações irreversíveis.
A hanseníase é uma doença infecciosa bacteriana que afeta principalmente a pele e nervos periféricos - os responsáveis por conduzir informações dos órgãos para o sistema nervoso central -, que quando afetados, podem causar sequelas irreversíveis, como perda de funções motoras e de sensibilidade nas áreas afetadas.
Com alto poder incapacitante, a doença pode atingir pessoas de qualquer sexo ou idade, inclusive crianças e idosos.
A transmissão acontece pelas vias aéreas, por gotículas de saliva eliminadas na fala, tosse e espirro, e diferente da covid-19, que transmite de forma mais rápida, a hanseníase requer um contato frequente e prolongado com a pessoa infectada. A maioria dos casos são entre familiares ou pessoas próximas.
De acordo com a coordenadora do programa de hanseníase da SMS, Laudia Bonato, o tratamento pode ser feito de forma gratuita pelas unidades de saúde. Ela lembra ainda que cerca de 93% dos casos em Curitiba dos últimos dois anos evoluíram para cura, pois estavam na fase inicial da doença.
“A hanseníase tem cura, mas os danos neurológicos que já foram causados são irreversíveis, o que piora a qualidade de vida do paciente. Quanto mais precoce for o diagnóstico, menor as chances de complicações ", orienta a médica infectologista da SMS, Claudia Palm.
Diagnóstico e Tratamento
Em Curitiba, o diagnóstico começa pela unidade de saúde, com o exame clínico e encaminhamento para realizar exame laboratorial de forma gratuita no Laboratório Municipal de Curitiba. Em caso de confirmação, os contatos próximos também devem ser avaliados.
“A principal orientação é que ao perceber alguma perda de sensibilidade no corpo, com ou sem mancha , procure um serviço de saúde. A hanseníase é tão incapacitante, que pode limitar até o movimento de segurar um copo d'água", exemplifica a médica sobre os impactos da doença.
O tratamento pode durar de 6 a 12 meses, dependendo da forma clínica. Durante o período, é necessário manter o acompanhamento médico regular. A doença é tratada com medicamentos colocados em cartelas, que são fornecidos nas unidades de saúde. Ao iniciar o tratamento a pessoa deixa de transmitir a doença, mas é preciso seguir com a medicação até alcançar a cura.
Preconceito
Uma das principais causas do diagnóstico tardio é o estigma e preconceito. Muitas pessoas escondem a hanseníase por vergonha das marcas e nódulos que surgem na pele, principalmente nas mãos, braços e rosto. Isso pode gerar um desconforto na pessoa em procurar ajuda médica, o que dificulta a quebra da cadeia de transmissão.
O Henrique, 43 anos, nome fictício de um paciente que aceitou dar seu depoimento, mas que prefere não ser identificado - justamente devido ao preconceito que envolve essa doença- , contou que fez todo o tratamento pelo SUS curitibano, e que teve apoio de médicas, enfermeiras e fisioterapeutas durante todo o processo de recuperação.
“É uma doença milenar, mas que ainda afeta a população. Na unidade de saúde recebi todos os medicamentos e tratamentos que precisava para superar a doença e hoje não tenho sequelas graves”, relatou.
Ele atingiu a cura completa e devido ao tratamento adequado, quebrou o ciclo de transmissão e ninguém de seu convívio desenvolveu a doença.
Sintomas
Os primeiros sintomas podem demorar até cinco anos ou mais para aparecer, por isso fique atento aos sinais e procure o serviço de saúde assim que perceber:
Os principais são:
- Manchas com perda de sensibilidade, esbranquiçadas, avermelhadas, acastanhadas ou amarronzadas, em qualquer parte do corpo. A cor das manchas vai depender da cor de pele. Para peles negras as manchas geralmente aparecem mais esbranquiçadas e para peles brancas, aparecem mais avermelhadas ou amarronzadas;
- Áreas do corpo com perda ou alteração de sensibilidade para calor, dor ou tato. Com ou sem manchas;
- Nervos engrossados e doloridos, feridas difíceis de curar, principalmente pés e mãos.
Podem surgir os demais sintomas:
- Caroços pelo corpo ou inchaços no rosto, orelhas e nas mãos;
- Diminuição da força muscular, como por exemplo ter dificuldade para pegar objetos;
- Formigamentos, agulhadas, câimbras ou dormência em membros inferiores ou superiores;
- Áreas da pele muito ressecadas que não suam, com queda de pelos (especialmente nas sobrancelhas).