Todos os dias, por volta das 10 horas da manhã, uma extensa fila se forma na Praça Rui Barbosa, no Centro de Curitiba. São moradores da região, estudantes, trabalhadores, moradores de rua, muitos idosos.
O objetivo comum é almoçar bem pagando apenas R$ 1. Desde agosto de 2007, quando foi inaugurado o primeiro Restaurante Popular da cidade, dois mil almoços são servidos religiosamente no local, de segunda a sexta.
O sucesso do empreendimento na Rui Barbosa fez com que nos últimos anos fossem inaugurados novos restaurantes populares: no Sítio Cercado, CIC/ Fazendinha e Pinheirinho, que servem mil refeições diárias cada. Juntos, os quatro servem hoje cinco mil refeições.
Um quinto restaurante popular está em fase de projeto, com previsão de início de obras para este ano e conclusão para 2013, no Boqueirão. “Será o primeiro restaurante popular totalmente sustentável do Brasil e, provavelmente, do mundo. Não tenho conhecimento de que exista outro”, explica o diretor do departamento de Educação Alimentar e Nutricional da secretaria municipal do Abastecimento, Élio Ventura.
Em primeiro lugar na preferência popular
Numa segunda-feira de março, as duas mil pessoas que almoçaram no restaurante popular da Matriz, na Praça Rui Barbosa, comeram picadinho de carne ao molho shoyo, polenta com queijo, salada de cenoura com repolho, arroz e feijão e um caqui como sobremesa.
“A comida é ótima e está dentro das orientações médicas que precisamos seguir”, diz o casal de aposentados Deolinda Silva Santos e Dionísio Ferreira dos Santos. “É saudável, bem temperada, com pouca gordura”, comenta Deolinda. Ela explica que diariamente cozinha em casa, mas custa mais caro. “Se pudéssemos viríamos aqui todo dia, pois é bom e barato, mas moramos em São José dos Pinhais, fica longe para nós”, diz.
Pela qualidade, as refeições servidas nos restaurantes populares caíram no gosto da população, ou como diz o ditado popular, “pegaram os curitibanos pelo estômago”.
Recente pesquisa da Prefeitura sobre a qualidade dos serviços ofertados, aponta os restaurantes populares como os equipamentos com melhor aceitação da população. “Os restaurantes são aprovados por 98% dos frequentadores”, informa Ventura.
A cozinheira Gersina Pereira Rodrigues faz parte desta imensa maioria. Ela mora perto do restaurante da Fazendinha/ CIC e se lamenta por trabalhar em outro bairro e não poder frequentá-lo diariamente. “A comida é ótima, o feijão muito bem temperado”, elogia. Ela conta que, acompanhada pelo filho Kauan, de seis anos, chega a gastar R$ 20 em outros restaurantes. “Aqui comemos bem e por um preço ótimo”, diz.
Comida balanceada - Diariamente os restaurantes oferecem arroz e feijão, uma carne, uma salada, uma guarnição e uma sobremesa, geralmente uma fruta. Todas as refeições são balanceadas e feitas sob supervisão de nutricionistas da Prefeitura. Os pratos campeões no gosto popular são feijoada, barreado, moqueca de peixe e peixe assado com legumes.
Cada almoço tem em média 1.350 calorias. Doce na sobremesa só é permitido, no máximo, três vezes por mês. “Priorizamos legumes e frutas. O Ministério da Saúde recomenda a ingestão de três a quatro frutas por dia, garantimos pelo menos uma aqui”, diz a nutricionista Mônica Jambersi Taques, da Secretaria Municipal do Abastecimento. “Não incentivar a ingestão de líquidos durante as refeições e evitar frituras e gordura de origem animal são outras premissas dos restaurantes populares”, explica.
O casal José do Nascimento e Gentila do Nascimento se preocupa com a saúde. Este é um dos motivos que faz com que os dois almocem diariamente no restaurante popular da Fazendinha/CIC. “Além de muito mais barato que em outros lugares, o almoço é balanceado e saudável”, diz Gentila. “O restaurante foi um presente que a prefeitura deu à população”, comenta José.
Garantia de origem - Todas as refeições são preparadas com produtos locais e da estação, plantados e colhidos em pequenas propriedades rurais a poucos quilômetros de distância de Curitiba. “Os restaurantes compram produtos de 50 associações que reúnem mais de 5 mil pequenos agricultores, o que facilita escoamento de produtos da época e garante preço melhor”, explica Élio Ventura. A compra dos alimentos e a gestão dos restaurantes é responsabilidade da Ação Social do Paraná, instituição parceira da Prefeitura de Curitiba.
Almoço a R$ 1
Refeição em local limpo, arejado e confortável
Os ambientes claros, limpos e arejados dos restaurantes populares proporcionam bem estar e conforto. Como as mesas são compartilhadas, se torna mais fácil a interação entre os frequentadores. “Há muitas histórias de amizades que começaram aqui e já teve um casamento entre dois idosos que se conheceram e começaram a namorar no restaurante da Matriz (Praça Rui Barbosa)”, conta Mônica.
Segundo um levantamento feito pela Secretaria Municipal do Abastecimento, dos cinco mil freqüentadores diários dos restaurantes populares de Curitiba, 2.900 são idosos, o que significa 58% do total.
Iracema Silva, de 70 anos, que almoça diariamente no restaurante da Matriz, conta que já fez muitas amizades no local. “Meus amigos todos eu conheci aqui”, conta. A aposentada viaja uma hora de ônibus todos os dias, de Piraquara até a Praça Rui Barbosa, para almoçar. “Vale à pena”, garante.
A pensionista Zeni Strobinski mora sozinha a poucas quadras do restaurante da Fazendinha/CIC, que freqüenta regularmente. “Faço economia, não preciso cozinhar e ainda vejo pessoas diferentes e me distraio. É divertido”, juntifica.
Mas apesar de idosos serem a maioria em todos os restaurantes, há diferenças marcantes entre o público que frequenta cada um dos locais. “No Sítio Cercado temos o público mais estável e o mais atípico. A maioria é morador da região, há muitas donas de casa com crianças, famílias”, conta Ventura.
O funcionário de um posto de gasolina do bairro, Arnaldo Barbosa, é um bom exemplo disto. Ele almoça diariamente no restaurante do Sítio Cercado com a filha Karoline, de 11 anos. “Eu entro no serviço ao meio dia e é uma facilidade poder vir aqui com ela antes disso”, conta.
Sua esposa Elisângela Barbosa, que trabalha como auxiliar de produção, eventualmente almoça com a família. “Depois que eles começaram a almoçar aqui, eu preciso cozinhar menos em casa e a compra do mês dura mais tempo”, conta Elisângela. Na maioria dos dias, ela almoça na empresa onde trabalha, mas quando pode acompanha o marido e a filha.
Além da economia, a família adora a comida do restaurante popular. “Gosto de tudo, mas meu prato preferido é o peixe”, conta Arnaldo. Para Karoline, a melhor receita que já provou no restaurante do Sítio Cercado é o bife pizzaiollo, com queijo e presunto. “É uma delícia”, diz a estudante.
Perto do terminal - No Pinheirinho, pela proximidade a um dos maiores terminais de ônibus de Curitiba, há muitos motoristas e cobradores, mas trabalhadores do comércio da região e transeuntes também fazem parte dos freqüentadores diários.
O motorista de ônibus Éder Alves Pereira comenta que o restaurante facilita muito a sua vida. “Pela correria do trabalho, não dá tempo de ir almoçar em casa e antes eu acabava almoçando um salgado e um refrigerante no terminal. Agora como uma refeição saudável e não fico com fome no meio da tarde”, diz.
A vendedora Adriana Bello, que trabalha numa loja de roupas infantis no Pinheirinho, também almoça diariamente no restaurante popular, acompanhada por três colegas. Antes de existir o restaurante, ela costumava trazer marmita de casa. “Mas, além de dar trabalho, custava mais caro. Aqui comemos muito bem e por um preço ótimo”, diz.
O restaurante do Pinheirinho, provavelmente terá um grande um aumento na demanda em breve, após a inauguração do Hospital do Idoso, localizado em frente. “Estamos preparados para isto. Poderemos passar das mil refeições diárias servidas para 1.500”, informa Élio Ventura.
Ele explica que cada refeição nos restaurantes populares de Curitiba tem custo total de R$ 3,52, dos quais R$ 2,52 são subsidiados pela Prefeitura. No restaurante da Matriz o valor cai para R$ 2,16, pois o número de refeições é maior.