O ano de 1974 foi de mudança na vida da aposentada Beatriz Klock, a dona Bia, então com 25 anos. Enquanto os curitibanos aprendiam a usar os recém-implantados “ônibus expressos”, ela, a irmã e a mãe saíam da casa onde moravam, na Vila Izabel, para um apartamento no Residencial Mato Grosso, primeiro conjunto de prédios populares do Sul do Brasil.
Erguidos no Água Verde e entregues em 1973, os dois blocos que compõem o residencial foram um marco na história da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), que completou 50 anos neste mês. Até então, “conjunto da Cohab” era sinônimo de núcleo de residências térreas. O Mato Grosso e seus 80 apartamentos miraram o alto e deram início aos empreendimentos habitacionais verticais, que hoje são a regra no município de Curitiba.
A adaptação da família Klock ao novo tipo de moradia levou certo tempo. “Era uma coisa diferente, novidade. A gente sempre tinha morado em casa, nunca tinha entrado em um apartamento”, lembra dona Bia. Edifícios residenciais eram comuns no Centro e em áreas como as margens da Avenida Sete de Setembro, por exemplo, que recebia à época alguns espigões, mas os bairros ainda começavam a conhecer a solução que conferia maior aproveitamento do metro quadrado e prometia mais segurança.
Não muito distante
Atualmente uma das áreas mais valorizadas do mercado imobiliário curitibano, os quarteirões ao sul do Água Verde eram consideradas na década de 1970 “não muito distantes”. Luiz Antonio Veloso, presidente da Companhia entre 1968 e 1974 e falecido em novembro do ano passado, lembrou em depoimento: “O BNH [Banco Nacional da Habitação, incorporado à Caixa Econômica Federal, em 1986] relutava em financiar prédios. Aqui no Sul, nós fomos os primeiros. O Banco aceitou como uma experiência piloto, pois havia uma dificuldade de achar áreas próprias não muito distantes para a implantação de conjuntos habitacionais", declarou, em 2005, para o livro que celebrava os 40 anos da Cohab.
Hoje, a Rua Mato Grosso já foi abraçada pela cidade, porém na primeira metade da década de 1970 a região preservava suas últimas chácaras – o local era o meio do caminho entre o Água Verde mais tradicional e antigo, localizado para os lados do cemitério, e o Portão, mais adiante. “Não era asfaltado aqui, nem a Rua Mato Grosso nem a Santa Catarina, onde eu ia pegar o ônibus para o trabalho. Tinha muito mato”, lembra dona Bia, que era balconista no açougue de um supermercado do Centro. “Agora tenho tudo à mão, farmácia, shopping, hospital. Não troco meu cantinho por nenhum outro.”
A aposentada Sueli Trentin, de 60 anos, e a mãe, Julieta, de 93, moram no conjunto desde 1980. Vieram do bairro Mercês e foram testemunhas da transformação por que passou a vizinhança nos últimos 35 anos. “Antigamente não tinha comércio por aqui. Se a gente quisesse ir no mercado, tinha que ir para o Centro”, lembra a filha. O irmão, já casado, buscou também no Mato Grosso a satisfação do item custo/benefício de que tanto precisava para estabelecer a família. O apartamento do residencial tem 50 metros quadrados, divididos em sala, cozinha, área de serviço, banheiro e dois quartos.
Melhorias
A síndica do Residencial Mato Grosso, Marlene de Lara, de 58 anos, é uma novata na área. Mudou-se para o edifício em 2003 e vem promovendo um rejuvenescimento na estrutura – a pintura cinza, já desbotada, está sendo substituída por duas tonalidades de marrom, e as partes elétrica e hidráulica recebem benfeitorias, tudo financiado pela taxa de condomínio, em torno de R$ 170 por unidade. “Os técnicos e engenheiros que visitam o prédio sempre elogiam a qualidade dos materiais utilizados na construção. A planta também é muito boa, bem desenhada”, diz Marlene. “Faz oito anos que estamos melhorando, fazendo reformas. É importante para manter o local atraente.”
O Mato Grosso é composto de dois edifícios erguidos paralelamente, de cinco pavimentos cada. Na entrada, sinal dos tempos: uma grade que originalmente não existia, e dois painéis com porteiros eletrônicos. Até os anos 1990, os visitantes chegavam diretamente às quatros portas de acesso, duas para cada prédio, passando pelo jardim – mantido até hoje com primor – e pelos bancos de praça instalados na fachada para a rua. Hoje, residem no conjunto, tanto os moradores mais antigos como estudantes e jovens casais.
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