Valores como legado, persistência e propósito foram pontos que as três palestrantes do primeiro Paiol Digital de 2025 reforçaram em suas falas na noite dessa terça-feira (11/3), diante de uma plateia majoritariamente feminina e que encheu o Teatro Paiol.
No evento - que é uma espécie de “Ted Talk do Vale do Pinhão”, e em março é dedicado às mulheres - o Paiol Digital foi uma noite sobre vinho, novos negócios e empoderamento para as cerca de 200 participantes.
Elas ouviram as histórias inspiradoras da proprietária, empresária e fundadora da Vinícola Legado, Heloise Merolli; da cofundadora da Troc, pioneira nas plataformas de moda circular, Luanna Toniolo; e da secretária municipal da Mulher e Igualdade Étnico-Racial de Curitiba, Marli Teixeira.
No único momento em que o microfone esteve em mãos masculinas durante o evento, o presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação, Dario Paixão, exaltou a importância do protagonismo feminino crescente à frente de empresas e startups. “Há seis anos organizamos o Paiol Digital e já é tradição que, em março, o palco seja todo de vocês, mulheres, que tanto têm feito pela inovação e pelo empreendedorismo", disse.
Romper ciclos
Entre as convidadas da noite, o público conheceu a primeira pessoa a comandar a Secretaria Municipal da Mulher e Igualdade Étnico-Racial de Curitiba (SMIR). Mulher e negra, aos 61 anos Marli Teixeira falou de infância em Cornélio Procópio (PR) e dos desafios à frente da pasta recém-criada para a gestão do prefeito Eduardo Pimentel.
“Mulheres, o que nos une é a luta para que possamos viver em paz, que possamos ter segurança. E uma luta como essa não pode ter inimigos. Curitiba inovou com esta nova Secretaria, para a mulher e para a igualdade étnica, e, nestes primeiros 70 dias de gestão, muita gente se aproximou interessada em contribuir”, disse Marli.
Da brincadeira nos jogos de queimada para os treinos de handebol na adolescência, o esporte foi a possibilidade de ela romper um ciclo familiar em que as únicas opções de futuro eram: ou boia-fria ou babá.
O handebol lhe rendeu uma proposta de bolsa de estudos em Curitiba, para onde veio aos 16 anos. Como jogadora, foi campeã Sul-Americana com a seleção brasileira. Se formou em Educação Física, conciliando Bolsa Trabalho, estágio e a jornada de estudos.
Durante a faculdade, como moradora do Lar da Acadêmica de Curitiba, aprendeu a valorizar a cultura afro e a se orgulhar da contribuição de seus antepassados para a construção do Brasil. De religião de matrizes africanas, diz acreditar ter sido escolhida por seu orixá para cuidar das pessoas não como sacerdotisa, mas sim na carreira profissional que seguiu: são 37 anos como servidora pública da Prefeitura de Curitiba.
À frente da SMIR, destaca ter desafios e a esperança de fazer um trabalho importante junto de outras mulheres.
Mãe e viticultora
A empresária e fundadora da Vinícola Legado, Heloise Merolli, contou a história da Vinícola Legado, hoje uma pequena empresa de Campo Largo, com cinco funcionários. “Não consigo falar da vinícola sem falar dos meus filhos. As videiras e eles cresceram juntos”, avisou, já no início de sua fala.
A vinícola é resultado de um hobby que ficou sério. Começou com o cultivo das 200 mudas de uva carbenet sauvignon, que ganhou no dia de seu casamento, em 1998. No mesmo ano, nasceu seu filho. Em 2003, ela e o marido colheram a primeira safra, no mesmo ano em que nasceu a filha do casal.
A morte do marido a fez se afastar do vinhedo. Anos depois, decidiu se reconectar com o parreiral e fazer dele um negócio, para ressignificar com boas histórias o local que havia vivido a perda.
“Uma vinícola que produz de seu próprio vinhedo é um projeto para o futuro, para 20 ou 30 anos depois. E que exige um cuidado diário como se fosse um jardim, além da persistência, da constância que a maternidade requer. Em ambos, vamos saber o resultado, se deu certo, se o vinho é bom, se os filhos têm bons valores, anos depois”, comparou Helena.
Uma puxa a outra
Fechando a noite, a empresária curitibana Luana Toniolo lembrou sua jornada da criação até a venda, para a Arezzo, da Troc, vanguarda e referência em plataforma de economia circular – um brechó virtual de alta qualidade -, e o novo começo que está vivendo na vida profissional.
“A Troc não era apenas comercializar roupas. Tínhamos metas de contribuir com a economia de 1 bilhão de litros de água, que não foi gasta na produção de novas peças. Batemos 2 bilhões”, lembrou.
Agora, ela está organizando a terceira rodada de imersão empreendedora com o POMS, em que passa dois dias com um grupo de mulheres empreendedoras para fazer com que seus negócios ganhem escala.
Em paralelo, está à frente, com duas sócias, da The3Percent, que visa aprimorar os negócios de outras mulheres, torná-los mais atrativos aos investidores, e aí, a The3Percent se beneficia como sócia.
“Esse projeto nasceu quando nos demos conta que apenas 3% dos negócios que recebem investimentos são liderados por mulheres. Temos de transcender, uma puxa a outra. Nós, que já atingimos um alto patamar, queremos aumentar esse percentual”, falou.
O Paiol Digital é uma das ações do ecossistema de inovação de Curitiba, o Vale do Pinhão, realizado pela Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação e Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação (SMDEI).