A programação do I Festival da Palavra de Curitiba nesta quinta-feira (28/9) começou com um bate-papo com o poeta alagoano radicado na Bahia José Inácio Vieira de Melo, mediado pela poeta pernambucana radicada no Paraná, Jussara Salazar, no Teatro do Memorial de Curitiba.
O tema do encontro foi poesia e oralidade, duas formas de expressão com as quais o autor convidado demonstrou grande habilidade. Na Feira do Poeta, teve início a maratona 24 Horas de Poesia, com autores e autoras locais.
Em performance cativante, cantando e declamando versos de sua autoria e de grandes mestres da literatura nordestina, José Inácio de Melo falou sobre sua obra e o quanto suas raízes influenciam as suas poesias. “Você tem uma trajetória ímpar, é um menestrel, cantador dos seus poemas”, descreveu Jussara, ao dar início à mediação e instigar o poeta a contar sobre sua história de vida.
“Desde menino sempre tive esse encanto pela palavra. Ao ser alfabetizado, comecei lendo o dicionário. Depois iniciei uma coleção de poesias de Castro Alves e Gonçalves Dias”, contou. O pai era vaqueiro e dos 20 aos 30 anos José de Melo viveu em pleno sertão, em um local onde sequer havia luz. “Mesmo sob a luz de candeeiro, foi o período que mais li”, revelou.
“A minha poesia surge do pasmo diante do cosmo”, disse José de Melo, ao revelar o medo que sentia de estar num lugar longínquo, arcaico e solitário, mas ao mesmo tempo com uma paisagem deslumbrante. “Sou um poeta do eu. A questão social aparece aqui e acolá. Só consigo falar da questão existencial”, disse.
Nomes como José Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Luiz Gonzaga e Patativa do Assaré são as suas fontes de inspiração e de lição estética. “Os mestres da cultura popular são o alicerce da minha produção”, destacou.
Rede de poesia
Pela manhã, na Feira do Poeta, teve início a maratona poética que terá apresentações, até domingo (1º/10), de 48 escritores. Os depoimentos colhidos nas 24 horas de poesia em Curitiba estão sendo gravados e depois serão exibidos nas Casas da Leitura. Cada autor tem 30 minutos para conversar com a plateia.
Hamilton Faria foi um dos primeiros a falar sobre poesia, processo de criação e a arte da palavra. Após sua exposição, ele comentou sobre a iniciativa e disse que a partir desses encontros é possível que se forme uma rede de articulação entre os poetas da cidade. “A qualidade dos poetas é muito boa, o tempo oferecido é generoso, gostei bastante”, avaliou, desejando que o evento deflagre outras iniciativas que possibilitem o encontro e as apresentações dos autores curitibanos.
Nesta manhã também participaram das gravações os poetas Anna Clara Bordinião, Estrela Leminski, Nilson Monteiro, Carla Ramos e Antonio Cescatto.
Duas oficinas inspiradas na escrita e na oralidade marcaram a quinta-feira do Festival da Palavra: Literatura oral e As brincadeiras de narrar, mediada por Lilyan Souza dentro da sala Valêncio Xavier, no Cine Passeio. Ela apresentou ao público as alegrias e desafios da arte de contar histórias.
O biólogo Marcos Roberto Bacila encontrou na oficina de Lilyan um ambiente leve e divertido para aprender mais sobre a sonoridade das palavras como um instrumento para incentivar a literatura. “Foi mais do que eu esperava, estou aprendendo muito, me divertindo muito, um clima incrível”, disse Marcos.
O poeta veio a Curitiba pela terceira vez e comenta que a receptividade do público é acolhedora. “É sempre muito prazeroso me apresentar em Curitiba, acho que o simples fato de acontecer um festival voltado para a palavra já é merecedor de todos os aplausos”, destacou Ricardo Aleixo
O editor Guilherme Eisfeld acompanhou a oficina e contou sobre a experiência.
“Ter o Ricardo Aleixo em Curitiba é um privilégio, especialmente para quem está participando desta oficina. Ele é uma pessoa performática e nos mostrou o prazer de brincar com as palavras e suas sonoridades”, relatou Guilherme.