O planejamento urbano pode ser uma estratégia para reduzir o preço dos alimentos nas cidades quando tem o olhar integrado para os desafios e o potencial da produção, transporte, comercialização, acesso, consumo e descarte de alimentos no âmbito local e regional. A análise de dados dos municípios de Curitiba, região metropolitana e litoral revela que os municípios apresentam potencial para realizar a transição para sistemas alimentares mais sustentáveis e saudáveis.
Esses são os principais direcionais do estudo “Os caminhos da comida: o papel do planejamento urbano na transformação do sistema alimentar”, apresentado nesta segunda-feira (17/3), no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). O prefeito Eduardo Pimentel participou do evento, parte da abertura da Oficina Alimenta Cidades que o Ministério do Desenvolvimento Social realiza em Curitiba nesta segunda e terça-feira (18/3).
Na oportunidade, Curitiba recebeu o Selo Betinho, promovido pela Ação de Cidadania para o Combate a Fome e que reconhece municípios que promovem e incentivam ações de segurança alimentar.
“Curitiba é um mercado metropolitano e temos a responsabilidade de puxar a produção do alimento saudável e barato. Temos hoje a cesta básica mais barata do país e também vamos buscar reduzir cada vez mais a camada da população que sofre com a fome”, disse o prefeito Eduardo Pimentel.
A média brasileira da população em situação de segurança alimentar é de 70, 3%. Curitiba e a região metropolitana registram, respectivamente, 80,9% e 79,6%, da população em segurança alimentar – com acesso pleno e regular aos alimentos. Mas, a situação de insegurança alimentar grave na RMC ainda é preocupante entre determinados grupos populacionais como idosos, mulheres, pessoas pardas, pretas, amarelas e indígenas.
Produção agrícola
Em 2022, os 36 municípios abrangidos pelo estudo produziram o suficiente para alimentar 3,5 milhões de pessoas, quase toda a população da região (3,9 milhões de habitantes). Um a cada três alimentos comercializados no Ceasa Curitiba tem origem na RMC e no litoral, o que indica um potencial de estruturação de cadeias curtas de distribuição de alimentos. A produção e comercialização próxima ao consumidor possibilita a redução do desperdício de alimentos e das emissões de CO2, além de estimular a geração local de emprego e renda.
A pesquisa é resultado da parceria entre a Prefeitura de Curitiba, por meio do Ippuc e da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN), com o Instituto Escolhas, de São Paulo. Foi coordenada pela economista Elizandra Flávia Araujo e pelo arquiteto Pedro Portugal Sorrentino, ambos servidores do Ippuc. Aprimorar e expandir as políticas de Segurança Alimentar com visão ampliada de Curitiba e RMC, promover agricultura urbana e familiar de base ecológica, fortalecer redes de cadeia curta e consumo consciente para conservação e promoção da biodiversidade são práticas previstas na ação 6 do PlanClima, o planejamento estratégico de Curitiba para o enfrentamento das mudanças climáticas, aprovado em 2020.
“A pesquisa é importante para qualificar nossos esforços e políticas públicas para trazer ainda mais melhorias no atendimento dos mais vulneráveis, em um trabalho transversal que reuniu expertises de diferentes áreas para consolidar as análises e orientar o planejamento”, avaliou Ana Jayme, presidente do Ippuc.
Curitiba já é referência em políticas de fomento a produção local de alimentos. Hoje, somente na capital paranaense, são 190 hortas urbanas, sendo 85 escolares, 53 comunitárias e 52 institucionais, que beneficiam quase 48 mil pessoas.
“A partir de dados do estudo, poderemos avançar nas políticas públicas de promoção de segurança alimentar e nutricional, ampliando a oferta e principalmente o acesso aos alimentos nos locais com maiores índices de vulnerabilidade social, com o mapeamento das áreas prioritárias para expansão da rede de equipamentos públicos”, avalia Leverci Silveira Filho, secretário municipal de Segurança Alimentar e Nutricional.
Agricultura urbana
O estudo traz recomendações para que Curitiba, Região Metropolitana e Litoral se tornem mais sustentáveis e que ações possam servir de exemplo e estender para outras cidades do país. Alguns caminhos: garantir políticas públicas que fortaleçam a Agricultura Urbana e ampliem o acesso à alimentos saudáveis em áreas de maior vulnerabilidade social, além de incentivar práticas agroecológicas e sistemas agroflorestais, inclusive como estratégia de regeneração de Áreas de Preservação Permanente degradadas.
“Há um potencial de produção de 20 mil toneladas de alimentos, suficientes para alimentar 125 milhões de pessoas utilizando somente 20% das áreas potenciais de expansão da produção de Agricultura Urbana em Curitiba. Isso é saúde na veia, pois impacta diretamente no atendimento do postinho e na qualidade de vida da população”, avaliou Sérgio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, parceiro da PMC na pesquisa.
Presenças
Participaram ainda do evento a representante do Ministério do Desenvolvimento Social, Bruna Pitasi Arguelhes, coordenadora de Apoio às Ações de Promoção da Alimentação Saudável do Departamento de Promoção da Alimentação Adequada e Saudável da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; Ana Paula Souza, gerente de Participação Popular da Ação da Cidadania contra a Fome; a deputada estadual Márcia Huçulak; os vereadores Jasson Goulart, Bruno Rossi e Meri Martins; além de integrantes de órgãos públicos municipais e estaduais, como Secretaria Municipal da Saúde, Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Secretaria Municipal de Assuntos Metropolitanos, Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR), Conaf, Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento e Agência de Assuntos Metropolitanos do Paraná.
O prefeito Eduardo Pimentel recebeu uma cesta de produtos orgânicos produzidos pela agricultora Sandra Mara Ribas dos Santos, exemplificando a qualidade dos alimentos produzidos em Curitiba e Região Metropolitana. Para incentivar a circularidade, o Ippuc recebeu uma composteira orgânica, como parte da estratégia do município de estimular o cuidado com a gestão de resíduos.