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Arte milenar

Pessoas em situação de rua acolhidas em Curitiba concluem o curso de Calcetaria

FAS: Formatura simbólica do Curso de Calcetaria, do Programa Liceu de Ofícios. Curitiba, 14/12/2022. Foto: Andre Wormsbecker/FAS.

 

Nove homens em situação de rua que são acolhidos pela Fundação de Ação Social (FAS) concluíram, nesta quarta-feira (14/12), o curso de Calcetaria, especialmente implantado para atender essa população. Esta foi a primeira vez que o programa Liceu de Ofícios, que há quase 30 anos oferta gratuitamente qualificação profissional para os curitibanos, desenvolve esse curso que ensina a arte milenar de se construir calçadas de pedras.

As aulas aconteceram no Liceu de Ofícios da Construção, especialmente implantado para o curso, na Praça Solidariedade, Rebouças, onde a Prefeitura mantém um complexo de atendimento a pessoas em situação de rua. Durante 13 dias, os participantes aprenderam como construir as famosas calçadas portuguesas, técnica de pavimentação que em Curitiba também é chamada de petit pavê. Além da prática, a turma aprendeu sobre a história desse tipo de revestimento, que é artesanal e milenar.

Conrado Cordeiro Donpin, 38 anos, participou da primeira turma. Ele, que é atendido no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) Solidariedade e é acolhido na Casa de Passagem Padre Pio, disse que gostou do curso e quer investir na nova profissão. “É uma coisa que mexeu bastante comigo, aprendi fazer e o bom é que tem bastante lugar para se trabalhar”, completou.

Orley Arlindo Dorigo, 58 anos, atendido em hotel social, disse que aprendeu muito durante o curso, principalmente sobre a história do revestimento. “Descobri que a calcetaria não é só um trabalho, é uma arte”, destacou o homem que já trabalhou na área da construção civil e pretende agora se especializar na construção de calçadas feitas de pedra.

Mercado de trabalho

A presidente da FAS, Maria Alice Erthal, se reuniu com o grupo, durante o encerramento do curso, e falou da necessidade dessa mão de obra no mercado de trabalho.

Maria Alice enalteceu ainda a parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), parceiro da FAS na oferta de cursos profissionalizantes e que desenvolveu a ementa do novo curso especialmente para atender a esse novo projeto do município.

A turma teve como instrutores Valmir Jorge Gomes, o mestre Gomes, conhecido calceteiro curitibano, que desde 1970 trabalha na construção de calçadas da capital, e o arquiteto Fábio Malikoski, doutorando em restauração e conservação de espaços culturais, pela Universidade Federal da Bahia.

“Para mim foi maravilhoso, realizei o sonho de passar o meu conhecimento para esse pessoal e quero continuar neste projeto”, contou mestre Gomes, que começou na profissão trabalhando para a Prefeitura, há 52 anos. Experiente, ele disse que muitos dos participantes do curso podem se tornar bons profissionais.

Imigrantes

A técnica de construção das calçadas portuguesas foi trazida para Curitiba por imigrantes no início do século 20. Na capital, elas ganharam desenhos art déco e art nouveau e, especialmente, os do Movimento Paranista (1903-1923), criado por artistas como Lange de Morretes, Domingos Nascimento, Romário Martins, Zaco Paraná e João Turin.

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