Resgatar a própria imagem e autoestima, além de perceber uma nova visão de mundo, a partir do olhar que a fotografia permite. Esse é o objetivo do projeto Re-tratos, desenvolvido com um curso de fotografia oferecido a pacientes do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Cajuru, que trata dependentes de álcool e drogas. Promovido pelo Departamento de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde, o curso tem dez alunos na primeira turma. Eles participam de aulas teóricas e práticas. O objetivo do curso não é ser profissionalizante e sim terapêutico.
O vigilante V.S iniciou o tratamento no Caps há dois meses, quando se deu conta de que, devido ao uso abusivo do álcool, havia perdido o emprego e estava se afastando da família. A partir da unidade de saúde Esmeralda, no Cajuru, foi encaminhado ao Caps, onde ficou uma semana no acolhimento noturno. Agora participa das oficinas. “Meu sonho desde criança era ser fotógrafo. Sei que, só com esta oficina, não vou ser fotógrafo profissional, mas posso ser quem tira as fotos das festas da família. Aqui estou resgatando valores que o álcool tinha tirado de mim”, conta.
Outro paciente, F.V, está fazendo pela segunda vez o tratamento para a dependência de álcool e outras drogas. “Eu era aqueles que chamam de ‘total flex’, que usa de tudo. Hoje, com o tratamento no Caps e este projeto, penso em fazer um documentário. Quero mostrar parte da história do meu processo de recuperação”.
De acordo com a coordenadora do Re-tratos, a psicóloga Patrícia Folly, a ideia é levar o curso para 60 pacientes que frequentam os Caps, centros de referência ao atendimento da população em situação de rua (Centro Pop) e do Consultório na Rua. “Nossa intenção é registrar o olhar deles e tirá-los da invisibilidade. A oficina não funciona como um curso técnico, mas um projeto terapêutico. Se algum deles tiver interesse em se profissionalizar, podemos incentivá-los e ajudá-los a procurar um curso técnico posteriormente”, diz.
O projeto tem parceria do Ministério da Saúde, que está custeando os equipamentos, os profissionais que ministram a oficina, uma exposição – prevista para o primeiro semestre de 2015 – e um livro que contará um pouco da biografia dos pacientes. O lançamento do livro, que já tem título (Biografia de Anônimos), está previsto para 2015.
O Re-tratos contará com quatro turmas e tem duração de 24 horas-aula. No fim das aulas práticas, os pacientes farão uma exposição de suas fotos que será realizada nos Caps, Ruas da Cidadania, Centros Pop e praças. O valor recebido do governo federal para a iniciativa é de R$ 30 mil.
“Nosso objetivo é a reinserção social desses pacientes, incentivar a autonomia deles. Todos têm uma história complicada de vida e por meio das fotos eles podem mostrar a sua visão do mundo e também construir uma nova perspectiva”, conta o professor da oficina, Douglas Fróis.