A motorista de ônibus de Curitiba Salete do Rocio Alves, de 50 anos, vem desafiando preconceitos e provando que lugar de mulher também é na frente do volante no transporte coletivo.
Em um setor ainda dominado por homens – dos 2.940 motoristas de ônibus que atuam na capital, apenas 5% (145) são do sexo feminino – ela foi a primeira motorista a dirigir um ônibus elétrico em Curitiba, tecnologia que é a principal aposta da cidade para reduzir emissões de gases do efeito estufa. Até 2030, 33% da frota deve ser zero emissões, percentual que deve chegar a 100% até 2050.
Há dez anos como motorista do transporte coletivo - boa parte deles à frente a linha Ligeirinho Colombo/CIC - ela conta que trabalhar dirigindo ônibus e transportar a população é o que a faz mais feliz.
“Sempre tive o sonho de ser motorista. Meu esposo é motorista de caminhão e me inspirou. Comecei como cobradora, mas meu objetivo era dirigir ônibus. Tirei a carteira de habilitação, fazia o curso na empresa Redentor no horário de folga e consegui uma vaga. Não troco este trabalho por nada, é a minha paixão”, diz ela, enquanto se prepara para mais um turno de trabalho.
A rotina na empresa de ônibus começa por volta das 15h e vai até as 23h30. Antes disso, pela manhã, ela cuida da casa e da família. São quatro filhos, todos adultos, e seis netos. “É preciso conciliar tudo, mas dá certo”, conta ela.
Sua vida no transporte coletivo nem sempre foi fácil. No início, as piadas eram comuns e o preconceito recorrente.
“Chorei muito neste volante. Mas há um momento em que você decide que não pode se importar mais. Somos o sexo frágil em muitas ocasiões, mas no trabalho somos fortes e firmes”, disse.
No trabalho, o reconhecimento veio em 2022, quando foi escalada para dirigir o primeiro ônibus elétrico apresentado na capital, da montadora chinesa Higer.
De lá para cá, foi motorista em todos outros nove testes de ônibus elétricos realizados em Curitiba. “Foi uma honra testar uma nova tecnologia. As mulheres são cuidadosas, detalhistas, conseguem se adaptar rapidamente a uma tecnologia nova”, afirmou.
Com a compra dos primeiros ônibus elétricos – hoje são sete veículos elétricos na linha Interbairros I e um na linha Água Verde, Salete foi convidada para operá-los, mas optou por ficar na linha Colombo/CIC. “Eu gosto da minha linha. Mas quem sabe no futuro”, diz ela.
Salete diz que o trabalho a tem ajudado também no tratamento contra a depressão, que chegou a afastá-la do dia a dia na empresa. “Eu pensei: não posso deixar essa doença me vencer a ponto de eu deixar de fazer o que mais amo. Por isso estou aqui, segurando esse volante e indo em frente”, finalizou