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Ação Social

Moradores do Condomínio Social recuperam controle sobre a própria vida

Moradores do Condomínio Social recuperam controle sobre a própria vida. Foto: Daniel Caron/FAS

“A rua é assustadora”. A constatação foi feita por Luiz Antonio Obladen, de 41 anos, um dos moradores da República Condomínio Social de Curitiba. Ele diz não se lembrar de como foi parar nas ruas, mas perder os pais muito cedo contribuiu para a sensação de insegurança e vulnerabilidade. “Logo fiquei dependente do álcool e perdi o controle sobre a minha vida e o contato com todos à minha volta”, recorda.

Luiz, que percorria as ruas da capital, conta que em uma noite de desespero buscou por conta própria ajuda na Central do Resgate Social da Fundação de Ação Social (FAS). “Foi ali que eu decidi que precisava mudar”.

Preocupado em recuperar sua autonomia, Luiz foi encaminhado para a Unidade de Acolhimento Rebouças, equipamento da FAS de atenção à população em situação de rua que possibilita o atendimento individualizado aos usuários. Lá, continuou mostrando transformação. Hoje morador do Condomínio Social, desde janeiro trabalha formalmente em uma empresa da região. “Em pouco tempo posso contar inúmeras mudanças extraordinárias na minha vida. Eu não tinha objetivos, tinha desistido da vida, queria apenas bagunça. Aqui eu tenho uma base, orientação, apoio 24 horas por dia. Isso é muito importante”, conta.

Contando com uma equipe formada por 12 educadores sociais, dois assistentes sociais, um psicólogo e outros mais auxiliares de cozinha, limpeza e administrativo, o Condomínio Social nasceu com o objetivo de ser a últimas etapas no resgate da cidadania e autonomia da pessoa em situação de rua. “Por aqui vão passar pessoas que já foram atendidas por outros serviços da FAS, que já estejam inseridas ou a ponto de voltarem ao mercado de trabalho e também estejam em busca do processo constante de recuperação, seja da dependência química, como também de suas vidas”, explica a coordenadora da unidade, Marilis Baumel.

De acordo com Marilis, assim como Luiz, que agora se prepara para iniciar um grupo de estudos para prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a história dos moradores é de superação e de força de vontade. “É um desafio diário, mas um trabalho recompensador. Todas as unidades de abordagem fazem um trabalho excepcional no atendimento da população de rua, mas a estrutura do Condomínio Social nos possibilita o conhecimento individual, o acompanhamento diário e constante”.

Gestão compartilhada

Preparado para começar no novo trabalho em breve, Jorge Batista da Rocha, de 46 anos, é outro morador que exibe orgulhoso a recém-expedida carteira de trabalho. Jorge é um dos moradores abordados na rua durante a Operação Inverno do ano passado. “Eu nunca trabalhei assim, certinho, só fiz bico na minha vida. Até me perder. Agora só penso no futuro e estar num lugar tão bonito e com pessoas que só querem uma vida melhor vai me ajudar nisso. Tenho certeza”, diz, animado.

“Diferente do que acontece nas outras unidades de acolhimento, aqui no Condomínio buscamos trabalhar com o conceito de cogestão, ou seja, os moradores participam de escalas de limpeza, ajudam no preparo das refeições e na organização do local”, detalha a coordenadora Marilis. Segundo ela, isso contribui para as etapas de inserção na sociedade e aumenta a responsabilidade do morador para com seu crescimento pessoal e coletivo. O regimento interno da  unidade também está sendo construído com a participação dos moradores.

“Às vezes a gente leva umas broncas aqui, mas é preciso. Precisamos entrar nos eixos e os puxões de orelha são para o nosso bem. Ainda quero ser conhecido e respeitado como o ‘senhor Jorge’. Na rua eu sempre fui invisível”, diz.

“Meu propósito de vida é ter minha casa e me reaproximar cada vez mais dos meus filhos. E eu vou conseguir”, diz Luiz, que depois de anos longe de casa, aos poucos retoma os contatos com os filhos de 18 e 16 anos.