Ao longo dos anos, eles foram ocupando pastas e mais pastas nas gavetas dos arquivos metálicos do Departamento de Cadastro Técnico da Secretaria Municipal do Urbanismo (SMU) de Curitiba. “Eles” são documentos que contam a história urbanística da cidade.
Há quatro meses, esses materiais - como croquis forenses, plantas urbanas e quadrantes - estão deixando as gavetas e sendo redescobertos e ganhando uma nova forma de serem consultados, com a digitalização.
Os responsáveis por esse trabalho de pesquisa, análise, reorganização e digitalização são arquitetos que estão cursando pós-graduação e atuam na SMU como estagiários.
São dez projetos coordenados pela diretora do Departamento de Cadastro Técnico, Aline Placha Tambosi, que revisitam materiais antigos com a história da ocupação urbana de Curitiba com o objetivo de preservá-los.
“É um trabalho bonito de preservação e que exige um grau de conhecimento técnico, que demandou dos nossos pós-graduandos a criação de uma metodologia própria para consulta e classificação dos materiais, com análise criteriosa, para só então passar para à digitalização”, conta Aline.
Os projetos foram idealizados pela equipe do departamento e contam com a expertise dos servidores da SMU Elza Kruchelski, Leocir Alves Lopes e Sandra Cardoso, grandes conhecedores da história do Cadastro Técnico Municipal.
Cidade digitalizada
No escopo, estão mais de 10 mil documentos históricos, alguns já centenários e, em sua maioria, feitos totalmente com um trabalho manual especializado.
Muitos deles têm bordas desgastadas, folhas amareladas, as cores esmaecidas pela ação do tempo e que retratam diferentes momentos dos 330 anos de Curitiba, em papel vegetal e nanquim.
Após a digitalização, boa parte do material pesquisado entra para o acervo do GeoCuritiba, a plataforma de cartográfico lançada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), à disposição da população.
O Geocuritiba foi criado com base na mesma tecnologia utilizada pela Nasa e que reúne aplicativos, painéis, mapas com funções customizadas e dados geográficos.
Quebra-cabeças
Além de promover a preservação da memória, o trabalho sobre essas plantas, quadrantes e croquis históricos dão mais agilidade nas respostas das solicitações à SMU que exigem conferências nos arquivos da cidade.
“Cada croqui é parte de um grande quebra-cabeças que estamos montando e revisando. Fizemos um trabalho de recuperação e conservação dos documentos. Durante a análise, quando encontro falhas de transcrição, alteração de nomes de rua, deixo registrado onde estão essas divergências”, diz o pós-graduando em Arquitetura e Cidades Guilherme Antonio da Rosa, 24 anos.
Ao compilar todas as discrepâncias encontradas durante a análise documental, a SMU se antecipa a dúvidas que possam surgir. A pesquisa pelos pós-graduandos pode informar uma situação particular que, até agora, exigiria que o servidor do Urbanismo tivesse de fazer a busca nos documentos primitivos.
De estágio a TCC
Se para a SMU – e para a cidade – a contribuição do trabalho dos pós-graduandos resulta em preservação da história documental, para os profissionais estudantes é uma oportunidade de aplicar, na prática, metodologias de pesquisa, ao ter acesso a documentos de grande relevância.
Para o pos-graduando em Arquitetura Hospitalar Naymer Augusto Brambilla, 28 anos, o acesso a essa documentação histórica é um privilégio que ele quer levar para o mundo acadêmico. Seu projeto de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na pós-graduação é sobre a pesquisa desenvolvida na SMU.
“São poucos os que já viram essas plantas até agora. Encontro detalhes interessantes, como a formação dos lotes em cada bairro. No Cajuru, por exemplo, formou-se uma grande extensão de lotes com o mesmo padrão; o Juvevê, com suas quadras triangulares privilegia incidência solar em todos os imóveis”, conta Brambilla.