O batuque da banda Afro Pretinhosidade embalou a sétima edição da Marcha do Orgulho Crespo, realizada nesta sábado (12/11) como parte das comemorações do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares.
A caminhada cruzou a Rua XV da Boca Maldita até prédio da UFPR na Praça Santos Andrade, onde foram realizadas diversas outras atividades ao longo do dia: oficinas de tranças e cuidados com o cabelo, contação de histórias e apresentações de música e dança.
Organizada de forma colegiada por artistas, professoras e profissionais de beleza, a Marcha reforça a valorização da cultura e da estética negras, contribuindo dessa forma para combater o racismo e preconceitos.
“É um ato importante para mostrar a representatidade do negros” avalia Maria Tereza Rosa, gestora pública da Assessoria de Igualdade Étnico-Racial da Prefeitura de Curitiba, que é uma das apoiadoras do evento.
“O município está presente para contemplar as demandas da população negra e ajudar a diminuir desigualdades e preconceitos.”
Presença
Este ano marcou o retorno do evento realizado de maneira presencial, já que em 2020 e 2021 ele havia sido realizado apenas on-line em decorrência da pandemia de covid-19.
A Marcha de Orgulho Crespo nasceu em São Paulo e foi trazida a Curitiba pela cantora e produtora cultural Michele Mara, que decidiu protestar contra um episódio de racismo de que foi vítima em uma loja da capital.
Mara, que hoje vive em Portugal, veio a Curitiba especialmente para o evento deste sábado.
“Nós, mulheres negras, somos muitas vezes vítimas de preconceito por causa do cabelo”, diz.
“Muitas são obrigadas a alisar o cabelo para conseguir trabalho. Isso ainda acontece muito”, completa ela, lembrando que o preconceito normalmente ocorre desde a infância.
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Por conta disso, Mara diz que é importante trabalhar a autoestima, principalmente com as crianças. “Cabelo é cabelo e tem vários tipos diferentes. Crianças negras tem cabelo crespo e isso precisa ser respeitado."
Segundo ela, a Marcha ajuda as pessoas a entenderem melhor o racismo, denunciá-lo e combatê-lo.
Identidade e orgulho
Participantes da Marcha destacaram o orgulho e a identificação que sentem em relação ao crespo.
“É um movimento bem legal, você acaba identificando outras pessoas que muitas vezes não vê no dia a dia porque estão em realidades diferentes da sua”, avalia Isabela Moreira de Oliveira, que trabalha com Tecnologia da Informação.
Para João Batista, profissional de marketing, o cabelo negro representa “identidade, confiança e afirmação”.
“A Marcha é um movimento identitário de reconhecimento”, define.
“O crespo significa orgulho e respeito para mim”, completou Angelino Domingos, estudante angolano que vive em Curitiba e participou da marcha neste sábado.