A dona de casa Rosângela dos Reis, de 35 anos, e a encarregada de limpeza Ivone Wagner, de 54 anos, estão morando desde setembro do ano passado no bairro Ganchinho. Elas foram atendidas nos Residenciais Parque Iguaçu I e III e fazem parte de um grupo cada vez mais representativo no programa habitacional do município: são mulheres chefes de família.
Elas já superam os homens no cadastro de pretendentes a imóveis da Companhia de Habitação Popular de Curitiba, mais conhecido como “fila da Cohab”. São maioria também nos atendimentos em projetos de reassentamento e na chamada faixa 1 do programa Minha Casa, Minha Vida, que abrange famílias com renda de até R$ 1.600 mensais.
Na fila da Cohab, as mulheres chefes de família concentram hoje 62,8 % dos inscritos e são maioria ainda mais significativa entre os moradores de áreas irregulares em processo de urbanização ou regularização. No cadastramento que é realizado antes das intervenções nas ocupações, pelo serviço social da Cohab, elas aparecem como responsáveis pelos domicílios em 84,5% dos cadastros aplicados.
Por isso, as mulheres chefes de famílias aparecem com destaque nos reassentamentos de moradores de áreas de risco. Nestes casos, elas estão presentes em 90% dos contratos como responsáveis pelos domicílios de famílias retiradas de locais como beira de rios e transferidas para imóveis do programa habitacional.
Nas áreas de ocupação antiga e já consolidadas, onde as famílias foram beneficiadas com a regularização fundiária, os contratos em nome das mulheres representam cerca de 45% do total.
Prioridade
A predominância aparece também nos atendimentos feitos com unidades do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), que utiliza recursos do governo federal. Isso porque as normas de funcionamento do MCMV estabelecem o atendimento prioritário às mulheres no grupo formado por famílias com renda de até R$ 1,6 mil. E, nestes casos, também em função da regulamentação do programa, o imóvel fica em nome da mulher, mesmo quando ela é formalmente casada.
“É uma forma de proteger o bem estar da família, já que a mulher tem um vínculo duradouro com os filhos”, explica o presidente da Cohab, Ubiraci Rodrigues. Com isso, nos empreendimentos destinados a essa clientela, em média 90% das unidades estão em nome de mulheres.
Na chamada faixa 2 do MCMV (famílias com renda entre R$ 1.601 mil e R$ 3.275 mensais), a presença da mulher entre os proprietários de unidades também é considerável e chega a 51% dos contratos assinados com a Caixa Econômica Federal – agente financeiro do programa.
Batalha
Rosângela dos Reis trocou no ano passado a insegurança de uma ocupação irregular no bairro Fazendinha por um sobrado do Residencial Parque Iguaçu III, no Ganchinho. Batalhadora, ela cuida sozinha de quatro filhos menores e uma enteada.
O filho mais velho e a enteada têm 16 anos, outro tem 14 e as duas filhas mais novas, Ketlin e Kevlin, são gêmeas, com 5 anos. “Dizem que mulher é o sexo frágil, mas queria ver um homem dar conta de cuidar da casa e de cinco crianças”, ressalta.
Antes do atendimento pela Cohab, a família enfrentou tempos difíceis em uma casa que era bem precária, na beira de um rio. “Era sofrido, havia muita sujeira e riscos de doença. Meu filho do meio pegou leptospirose e quase morreu. Graças a Deus isso ficou no passado e, agora, está bem melhor. Moramos em um bom sobrado e nossa vida mudou”, afirma.
Ivone Wagner também está no comando da família. Ela foi atendida com um apartamento no Residencial Parque Iguaçu I, depois de se inscrever na fila da Cohab e ser sorteada para o empreendimento quando ele ainda estava em construção.
Divorciada há mais de 10 anos, antes de mudar para o Ganchinho, ela pagava aluguel em uma casa no Uberaba e, com esforço, sozinha, terminou de criar os dois filhos, que hoje estão com 18 e 16 anos.
“É preciso ter muita garra e perseverança para sustentar uma casa uma renda de R$ 1,6 mil. Passamos dificuldades, mas nunca perdi a fé. Sempre segui batalhando sem depender de ninguém. O resultado está aqui hoje. Moro em um bom apartamento e os meus filhos estão criados e são muito bem educados. Sei que não sou a única. Como eu, existem muitas outras mulheres guerreiras, que são as responsáveis por suas famílias”, fala.