Uma história recente e ao mesmo tempo ancestral, a literatura indígena brasileira começou a ser publicada há cerca de 30 anos, por autores e autoras como Eliane Potiguara, Daniel Munduruku, Ailton Krenak, Olívio Jecupé, Yaguarê Yamã e outros nomes. Milenar porque são livros que registram conhecimentos e tradições orais de povos originários, passados de geração em geração.
Esse novo e fascinante universo literário indígena pode ser conferido nas Casas de Leitura da Fundação Cultural de Curitiba. Atualmente, as 16 bibliotecas de bairro mantidas pela Prefeitura de Curitiba contam com 135 exemplares de 60 títulos de obras que registram o pertencimento étnico e vínculo aos povos ancestrais.
“Conhecer a literatura iníigena é uma forma de promover o letramento multicultural, demonstrando a vasta diversidade que habita o território brasileiro”, afirma Thiago Correa, mediador de leitura da FCC e pesquisador do tema.
Para consultar o acervo das Casas de Leitura da FCC, clique aqui.
De acordo com Thiago, até pouco tempo atrás, a imagem dos povos ancestrais era construída unicamente pelo branco, pelo não indigena, de maneira equivocada.
“Ao demarcar o território da literatura impressa, os povos indígenas podem narrar suas culturas e visões de mundo a partir de seu ponto de vista, de modo a questionar o imaginário equivocado que foi construído sobre si e também fortalecer suas culturas e identidades, diz Thiago Correa, mediador de literatura da FCC.
Por sete anos, Thiago trabalhou na Casa da Leitura Jamil Snege, no Fazendinha, e o resultado é que o espaço tem hoje o maior acervo de literatura indigena da Prefeitura de Curitiba.
Dia Internacional dos Povos Indígenas: 9 de agosto
Além dos empréstimos de livros que podem ser feitos durante o ano todo, em agosto esse gênero literário ganha destaque na agenda das Casas da Leitura.
Uma intensa programação com rodas de leitura, contação de história, debates e outros eventos sobre a literatura indígena foi organizada para celebrar o Dia Internacional dos Povos Indígenas, comemorado em 9 de agosto, mas que, para a FCC, vai durar o mês todo.
Uma recente história ancestral
Apesar do vínculo com a ancestralidade, a literatura indígena brasileira contemporânea, no formato impresso em mercado editorial, surge a partir da década de 1990, com o início das políticas de alfabetização dos povos indígenas.
Após a Constituição Federal de 1988 os povos indígenas conquistaram direitos que asseguram suas identidades indígenas mesmo exercendo qualquer papel na sociedade, inclusive o de publicar livros.
Anteriormente a esse marco, publicar livros caracterizava uma ameaça às identidades indígenas. A mentalidade difundida na sociedade era a de que os indígenas estariam em processo de assimilação, e ao publicarem livros, ou exercerem quaisquer outras atividades da sociedade em geral, significaria que estariam deixando de ser indígenas.
Livros para conhecer a literatura indígena brasileira
Para quem deseja conhecer esse universo mais a fundo, Thiago recomenda os livros: O banquete dos deuses: conversa sobre a origem da cultura brasileira, de Daniel Munduruku; Metade Cara, Metade Máscara, da Eliane Potiguara; e Murugawa: mitos, contos e fábulas do povo Maraguá, de Yaguarê Yamã.
Além disso, existem alguns escritores bastante estimados por serem considerados os pioneiros da literatura indígena brasileira contemporânea, como Eliane Potiguara, Daniel Munduruku, Ailton Krenak, Olívio Jecupé, Yaguarê Yamã.
Duas obras recentes também são recomendadas. Publicadas por escritores jovens que têm fortalecido suas retomadas indígenas: Eu sou macuxi e outras histórias, de Julie Dorrico, e Tybyra: uma tragédia indígena brasileira, de Juão Nyn.