Desde 8 de novembro de 2019, o Liceu de Ofícios Criativos vem redefinindo o cenário do artesanato em Curitiba. No coração do setor histórico da cidade, na Rua Mateus Leme, o espaço coordenado pelo Instituto Municipal de Turismo é um ponto de encontro entre tradição e empreendedorismo.
O local foi pensado para capacitar e valorizar os artesãos locais, combinando formação técnica com estímulo ao desenvolvimento de negócios e a criação de produtos de alta qualidade e identidade local.
Artesãos, designers e artistas encontram cursos e oficinas que vão do desenvolvimento pessoal ao empreendedorismo, passando por técnicas tradicionais e inovações artesanais. Entre as atividades oferecidas, aulas especiais destacam-se por valorizar a cultura dos povos que construíram a história de Curitiba, em oficinas que resgatam o artesanato étnico, fomentam a identidade local e incentivam práticas sustentáveis.
A atuação do Liceu já gerou resultados expressivos. Produtos artesanais comercializados nas feiras de Curitiba ganharam nova cara, com maior qualidade e originalidade, enquanto os profissionais aprimoraram suas habilidades de gerenciamento e vendas.
Em números
O impacto do Liceu é impressionante: mais de 600 cursos, presenciais e a distância, resultando em mais de 5 mil certificações emitidas.
Em 2024, o Liceu ofereceu oficinas de artesanato étnico, trazendo técnicas como trançado de vime (com raízes italianas), confecção de boneca matrioska em feltro e punch needle, de influência russa, e o furoshiki, método japonês de criação de ecobags.
Já as oficinas de identidade local apostaram em temas como a pintura em tecido com ilustrações de capivaras, pinhões geométricos e encadernações bordadas, explorando ícones visuais e culturais da cidade.
Reaproveitamento criativo
O Liceu também se destaca por seu compromisso com a sustentabilidade. Diante do problema do descarte inadequado de materiais, o espaço passou a oferecer oficinas voltadas ao reaproveitamento criativo de vidro, latas e pallets, por exemplo. Em 2024, mais de 20 oficinas ecológicas foram realizadas.
Além disso, o Liceu está de olho nas tendências: a inteligência artificial passou a ser usada no processo criativo, aproximando os artesãos de ferramentas tecnológicas que ampliam as possibilidades de inovação e aprimoramento das peças artesanais.
Futuro
Olhando para o futuro, o Liceu planeja expandir suas instalações, como explica a coordenadora do Liceu de Ofícios Criativos, Patricia Pereira Betenheuser. “Atualmente, conta com uma sala de aula para 24 alunos e uma sala multiuso adaptada para oficinas e palestras. Com a expansão, a estrutura será redesenhada para incluir espaços dedicados à pintura, cerâmica, costura e exposição de produtos, criando um ambiente de colaboração ainda mais vibrante para a comunidade criativa de Curitiba”, afirma a coordenadora.
Uma das pessoas que faz parte dessa comunidade é a artesã e farmacêutica Rejane Silveira da Mota, de 63 anos. Ela começou a frequentar o Liceu para participar das aulas ligadas ao empreendedorismo, mas também foi atraída pelos cursos de artesanato.
“Comecei a frequentar o Liceu no ano passado e, desde então, sou frequentadora assídua. Já fiz tantas oficinas que perdi a conta. Os professores são muito empenhados e às vezes acontece até um networking entre os alunos”, diz a farmacêutica.
Com o conhecimento aprendido nas aulas de artesanato, Rejane formou um grupo para treinar uma técnica aprendida, o que também se transformou em um grupo de amigas. Ela ainda conta que algumas dessas pessoas formaram um coletivo para participar de exposições. Hoje elas mostram seus trabalhos em feiras de artesanato.
“Liceu do amor”
Frequentar o Liceu também é uma experiência muito positiva para os mentores dos cursos, como a artista plástica Débora Jorgensen. Ela conheceu o Liceu em eventos online no período da pandemia, e ministra de duas a três oficinas por ano desde 2022.
“Nas minhas aulas trabalhamos a construção da boneca Waldorf, com versões para as férias, Páscoa e Natal. Também tive a honra de ensinar a técnica com cabides decorados apreendidos com minha avó e, recentemente, bolas de Natal em patchwork”, conta Débora.
Ela também relata a satisfação por dar aulas em um lugar como o Liceu. “A cada encontro no Liceu saio de lá feliz e imensamente grata por fazer parte deste local que é feito de pessoas sensacionais, uma fonte de acolhimento, saberes e amizades. Inclusive, o chamo carinhosamente de Liceu do Amor”, diz a artista.