A interdição de uma estrutura viária, seja em trechos urbanos ou rodoviários, é uma medida que envolve, mais do que a responsabilidade técnica de engenharia, o compromisso de evitar tragédias que custem vidas. É o que afirma o engenheiro Hamilton Budal Arins, responsável pelo laudo das condições estruturais do viaduto que liga as ruas João Miqueletto e Eduardo Pinto da Rocha sobre a linha férrea no Alto Boqueirão.
“Na condição de engenheiro de Recuperação de Estruturas, quando você tem conhecimento de que uma estrutura está entrando em colapso e não comunica as autoridades, você se torna responsável pela vida das pessoas que trafegam sobre essa estrutura. Tenho certeza da decisão correta para interromper o tráfego no viaduto, porque a estrutura estava comprometendo a segurança da população local. Vamos assumir o risco de matar pessoas? Quem vai assumir esse risco?”, observa Arins, que tem experiência de mais de 45 anos como calculista de pontes e viadutos e em projetos de recuperação estrutural.
O viaduto interditado está na lista de pontes, trincheiras e demais viadutos e estruturas de concreto armado ou protendido da cidade, as chamadas Obras de Arte Especiais, inspecionadas e vistoriadas por serviços contratados pela Prefeitura, por intermédio do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), para diagnóstico e recuperação.
Bases rompidas
“Acompanhei pessoalmente a vistoria de todas as obras de arte listadas pela Prefeitura. Quando fui pessoalmente vistoriar este viaduto, ao atravessar de um lado a outro, com o tráfego liberado, constatei uma movimentação exagerada, muito acima do normal, no sentido longitudinal e no sentido de torção. Este viaduto estava torcendo e se movimentando longitudinalmente com o tráfego normal”, explica o engenheiro Hamilton Budal Arins.
O viaduto da João Miqueletto tem cerca de 50 anos e foi projetado para suportar um tráfego contínuo de veículos com 12 toneladas, sendo 4 toneladas por eixo. “O viaduto dá acesso aos contornos de Curitiba e é alternativa ao tráfego pesado. Estavam trafegando caminhões de 45 toneladas e até pior, carretas bi-trem de 70 toneladas, o que contribuiu para colapsar a estrutura”, diz o engenheiro de Recuperação de Estruturas.
Segundo o engenheiro, análise detalhada da estrutura, posterior à vistoria inicial, apontou deslocamento de todos os pilares do viaduto, que estão torcidos e deslocados cerca de 13 centímetros, sendo que o limite tolerável de deslocamento em estruturas deste tipo é de 1 centímetro. Além disso, as bases dos quatro pilares estão rompidas.
Escoramento e análises
O projeto e a execução das obras de escoramento foram necessários para manter a estrutura. Em paralelo, foram feitos ensaios e encaminhados estudos de alternativas para o deslocamento seguro na região.
“A primeira decisão que você toma nesse tipo de estrutura é mantê-la de pé. Então a primeira decisão foi a de escorar a estrutura. Escoramos a estrutura, mas não permitimos o tráfego porque a movimentação ainda existe. Ela está estável, sem o tráfego. Com o tráfego, estaria comprometida”, explica o engenheiro.
No período desde a interdição, passando pelas intervenções de escoramento foram feitos estudos no viaduto da João Miqueletto sobre as possibilidades de demolição, reconstrução ou reforço estrutural.