Localizado no centro de Curitiba, o Hotel Social Eilat tem se mostrado um porto seguro para mulheres travestis e trans adultas em situação de rua. Desde sua abertura em janeiro deste ano, a unidade oferece hospedagem social 24 horas e contribui para a inserção dessas mulheres no mercado de trabalho, promovendo sua autonomia e superação de vulnerabilidades sociais.
Primeiro hotel social do Estado voltado especificamente para mulheres travestis e trans, o Eilat oferece 20 vagas para acolhimento. Atualmente, 17 pessoas são acolhidas no local, sendo que quatro delas já foram contratadas formalmente por empresas. Suas ocupações variam, com uma trabalhando como caixa em um supermercado, uma como cuidadora, outra em uma empresa de telemarketing e a última exercendo uma função de auxiliar de cozinha.
Além das acolhidas contratadas, outras sete mulheres trabalham informalmente como artesãs, vendedoras de balas em semáforos e profissionais do sexo. O Hotel Eilat busca atender individualmente às necessidades de cada uma das acolhidas por meio de planos de trabalho elaborados pela equipe técnica da Fundação de Ação Social (FAS).
Necessidade
Grace Kelly Puchetti Ferreira, diretora de Atenção à População em Situação de Rua da FAS, destaca que mulheres transgêneros e travestis enfrentam violações de direitos, dificuldades no acesso a serviços, são expulsas de casa e encontram dificuldades para se inserirem no mercado de trabalho.
Segundo a diretora, o Hotel Eilat foi criado para suprir essa demanda identificada durante os atendimentos a pessoas em situação de rua na capital. “O atendimento a mulheres travestis e trans tem especificidades, pois não podem ser acolhidas em unidades que atendem homens e nem mesmo mulheres, para que se possa garantir a segurança e a qualidade de vida delas, importantes para a superação da situação de rua.”
Além da hospedagem e alimentação, o hotel promove ações para encaminhamento das acolhidas para o mercado de trabalho e rodas de conversa sobre saúde, educação, habilidades sociais e trabalho, abordando temas importantes para essa população. O projeto conta com a parceria da Assessoria dos Direitos Humanos da Prefeitura de Curitiba, que auxilia no trabalho de formação, capacitação e articulação junto à rede de atendimento de voluntários da sociedade civil.
Antes da abertura do hotel, a FAS capacitou as equipes dos Centros de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro Pop), dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), da Central de Encaminhamento Social (CES) e da Casa da Acolhida e do Regresso (CAR), unidades que atendem e encaminham a população de rua para atendimento na cidade.
“Minha casa”
Mulheres acolhidas no Hotel Eilat relatam a importância do local em suas vidas. Juliana Batista Severo, de 46 anos, encontrou abrigo no hotel e conseguiu emprego como cuidadora de um adolescente com necessidades especiais que é acolhido pelo município.
Formada em Pedagogia e ex-aluna de Teologia, ela busca agora um segundo emprego para complementar a renda e ajudar nas despesas da nova moradia. “Fiquei sabendo do hotel quando cheguei na Rodoviária, procurei a CAR e fui logo acolhida”, conta.
Érika Panichek Ribeiro, de 23 anos, também foi acolhida no hotel e atualmente trabalha em uma panificadora. “Faço taxa, trabalho uma vez por semana, mas quero ser contratada para ter uma renda maior”, explica. Formada em TI, Érika viveu em Balsa Nova até a vida adulta, mas decidiu se mudar para Curitiba em função de conflitos familiares. “Vim para cá para reorganizar a minha vida. O hotel é bom, confortável. Temos muito apoio da FAS, o que nos ajuda bastante.”
Ana Paula Holman, de 42 anos, que trabalhou durante vários anos como cabelereira e maquiadora, encontrou no Hotel Eilat um lugar para recomeçar após viver nas ruas por quatro anos. “Aqui é muito bom, é a minha casa, é meu teto, aonde fico quentinha, alimentada e tenho um quarto limpo”, diz. Ana espera retomar sua carreira como autônoma assim que receber novamente o Bolsa Família, que foi suspenso pelo Governo Federal.
Sofia Cova, de 29 anos, uma venezuelana que está há três meses em Curitiba, também encontrou acolhimento no hotel e está em busca de emprego em qualquer área para estruturar sua vida na cidade. Enquanto isso, pretende participar de cursos de qualificação profissional oferecidos gratuitamente pela FAS.