Depois de ficar sem emprego e sem receber os direitos trabalhistas, a ex-governanta Aglaci Rodrigues de Sales Loureiro Fernandez está se profissionalizando como doceira. A mudança começou quando ela resolveu procurar o Cras (Centro de Referência de Assistência Social) Boqueirão em busca de ajuda e descobriu que poderia receber um auxílio financeiro. Foi o que bastou para começar a transformar a fase amarga da vida em doces.
“Eu recebia R$ 2 mil por mês e, quase no começo da pandemia, me vi sem nada: sem trabalho, sem o que eu tinha direito a receber, a carteira de trabalho sem dar baixa, sem perspectiva. Eu precisava fazer alguma coisa”, conta a empreendedora. No começo, dedicou-se à montagem de prendedores de roupa – um trabalho difícil que tomava tempo, machucava os dedos e pagava apenas R$ 60 para cada 12 mil unidades prontas.
Trabalho de formiguinha
Porém, foi com parte dos R$ 70 pagos pelo serviço de assistência social para comprar alimentos no Armazém da Família que ela começou a adquirir itens usados no preparo dos doces – como leite condensado, chocolate em pó, creme de leite e coco ralado.
“Aglaci fazia mágica com um dinheiro que ela nem sabia que tinha o direito de receber”, lembra Morgana Gonçalves, coordenadora do Cras Boqueirão e incentivadora da doceira. “Ela faz doces enormes e deliciosos”, completa.
A decisão de separar parte do dinheiro para investir na atividade veio depois que uma sobrinha que faz salgados, sabendo do talento da tia, passou a oferecer os doces à clientela. “Eu ainda tinha o dinheiro da montagem dos grampos e uma das minhas filhas me trazia alimentos. Então, dava pra investir um pouquinho”, conta ela, que divide com dois irmãos o terreno onde mora, no Boqueirão, há mais de 50 anos.
Profissionalização para a autonomia
Aos 64 anos, Aglaci não pensa em parar. Faz dez tipos de doces para eventos, bares e venda de porta em porta – como a Rua da Cidadania do Boqueirão, onde já é conhecida. No fim do ano passado, começou a divulgar o trabalho no Instagram pela página Panelinha da Vó Tiko.
Mesmo com todo o empenho, ainda não ganha nem metade do que recebia quando empregada, mas não desanima. Por isso, além de trabalhar, a doceira encontra tempo para se aperfeiçoar. Vai assistir à palestra sobre empregabilidade da Semana da Mulher e, em maio, o de microempreendedorismo. As duas atividades são ofertadas pela FAS.
“Minha meta é não precisar mais do auxílio do governo e, em primeiro lugar, pagar o que devo de água e luz”, completa.
Recentemente, também por meio da orientação da FAS, trocou o auxílio alimentação, que no ano passado foi pago pela Secretaria Municipal da Segurança Alimentar e Nutricional, pelo Auxílio Brasil – o antigo Bolsa Família.
Mesmo não recebendo mais o auxílio alimentar para comprar no Armazém da Família, Aglaci voltou ao local na semana passada. A ideia foi recordar o período de mais de 1 ano que passou recebendo o benefício e, simbolicamente, agradecer pela oportunidade.
“Faço meus doces com amor e agradeço a cada pequena vitória, que não é só minha”, diz. Por isso, com um bandeja nas mãos, ela fez questão de entregar um doce para cada funcionário. “É muita delicadeza. Estamos felizes por ela”, disse a gerente da unidade, Helena Rebouças.