Primeira capital brasileira a implantar uma Fazenda Urbana, referência em práticas agrícolas sustentáveis, Curitiba está produzindo um estudo sobre o potencial de agricultura no espaço urbano que poderá servir de subsídio a diretrizes de uma política nacional sobre o tema.
O levantamento está sendo elaborado pelo Instituto Escolhas, organização não-governamental dedicada à produção e disseminação de estudos e pesquisas relacionadas a temas socioambientais e econômicos no Brasil, em parceria com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e a Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN), que orienta o processo.
Os resultados da primeira fase desse trabalho serão apresentados nesta sexta-feira (4/8), em um workshop no auditório do Ippuc. Além de Curitiba, os municípios do Rio de Janeiro e Recife também fazem parte do estudo.
Em Curitiba, o estudo é conduzido por um grupo de trabalho formado por 13 pessoas, das quais 10 técnicos do município, sendo seis da SMSAN e quatro do Ippuc, mais dois especialistas do Instituto Escolhas e um consultor contratado pela ONG. Em reunião no Ippuc realizada nesta semana, integrantes do grupo de trabalho e a diretora de Informações do instituto, Liana Vallicelli, receberam as gerentes de Projetos e de Portfólio do Instituto Escolhas, Juliana Ramos Luiz e Jaqueline da Luz Ferreira, para alinhar os próximos passos do Ippuc.
“O efeito das mudanças climáticas pode afetar o preço e a qualidade dos alimentos consumidos pelas populações urbanas. Por esse motivo, entendemos que a identificação das especificidades da cidade de Curitiba e seu entorno poderá fomentar políticas integradas e multidisciplinares, que aumentarão a resiliência da cidade”, observa Elizandra Araujo, doutoranda em Políticas Públicas do setor socioeconômico da Diretoria de Informações do Ippuc.
Mapeamento
Também no âmbito da cooperação com o Instituto Escolhas está sendo realizado um levantamento de todos os dados disponíveis sobre o sistema alimentar – relações de produção, distribuição e consumo e descarte de alimentos – da Região Metropolitana de Curitiba e litoral.
O recorte territorial revê como base a Lei Municipal 16065/2022, que institui diretrizes para o desenvolvimento agroalimentar metropolitano, no âmbito da segurança alimentar e nutricional.
Na opinião do arquiteto e urbanista do setor de Monitoração da Diretoria de Informações do Ippuc, Pedro Sorrentino, que também integra o grupo de trabalho do estudo, este é um tema emergente no debate do planejamento urbano, sobretudo em um contexto de agravamento da crise climática. “É uma questão com repercussão na dinâmica da cidade em diferentes áreas: uso do solo, segurança alimentar e nutricional, combate à pobreza, mobilidade, saúde humana e ambiental, entre outros”, reforça Sorrentino.
Na próxima etapa serão mapeadas as diferentes atividades do sistema alimentar (produção, distribuição, comercialização, consumo e descarte) de Curitiba, RMC e litoral. A pesquisa tem previsão de conclusão para dezembro de 2023.
Nova Fazenda Urbana
Curitiba já conta com 147 hortas espalhadas pelo município, que envolvem mais de 37 mil pessoas diretamente e indiretamente em um projeto de melhor aproveitamento dos espaços urbanos vazios em Curitiba. Essa iniciativa não só contribui para a qualidade da alimentação dos curitibanos, mas também promove o tratamento da saúde emocional e a ocupação social da comunidade local.
Além disso, a cidade irá contar com a Fazenda Urbana na CIC, em uma área de aproximadamente 11 mil m², integrada ao Parque dos Tropeiros. A nova Fazenda Urbana contará com um laboratório para abelhas nativas sem ferrão, chamado Abelha LAB, com meliponário (abrigos de abelhas) para replicação de colmeias no bosque nativo, além de espaço para o manejo de mudas de araucárias, erva-mate e frutíferas nativas enxertadas. E ainda com um Armazém da Família modelo, fundamentado com produtos da agricultura familiar, criando junto aos consumidores hábitos de boa alimentação, além de geração de renda nos cinturões verdes que circundam a metrópole.
A estrutura contará também com uma escola de Segurança Alimentar e Nutricional equipada com cozinha multifuncional e área para a compostagem, espaço de cultivo sustentável de alimentos, sede com áreas de administração, núcleo Regional da SMSAN, ecoworking, salas de aula e espaço para conferências e reuniões.
A proposta segue diretrizes da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN) com suporte do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e das secretarias municipais de Obras Públicas (Smop) e do Meio Ambiente (SMMA) na implantação.