Referência em práticas agrícolas sustentáveis e primeira capital brasileira a implantar uma Fazenda Urbana, Curitiba está desenvolvendo um estudo sobre o sistema alimentar da capital, região metropolitana e litoral para subsidiar estratégias de planejamento urbano e apurar o potencial da agricultura urbana no município.
O trabalho apontou que existem mais de 800 hectares com potencial para desenvolvimento de hortas urbanas, número maior do que toda a área mapeada com práticas de agricultura em Curitiba.
Apresentação dos trabalhos
O resultado preliminar desse trabalho foi apresentado na tarde de quarta-feira (5/6), no auditório do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), com a presença de técnicos do Ippuc, representantes do Instituto Escolhas, da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Curitiba (SMSAN) e outros representantes de instituições relacionadas, como o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de Curitiba (Comsea).
O Instituto Escolhas desenvolve estudos e análises sobre temas fundamentais para o desenvolvimento sustentável, e participa da iniciativa por meio de cooperação técnica com o Ippuc.
O estudo do Ippuc usou como base levantamento realizado pelo Instituto Escolhas sobre produção de alimentos em centros urbanos, que teve como foco Curitiba, além de outras duas capitais: Recife e Rio de Janeiro. O trabalho do Instituto Escolhas, intitulado “Como o governo federal pode apoiar os municípios no fomento à produção de alimentos?”, foi apresentado para os presentes e distribuído de forma impressa.
Subsídio para o planejamento urbano
De acordo com um dos coordenadores do levantamento do Ippuc, o arquiteto e urbanista Pedro Portugal Sorrentino, este trabalho começou em 2022 com o objetivo de mapear o sistema alimentar de Curitiba, região metropolitana e litoral.
“O objetivo é levantar dados do sistema alimentar de Curitiba, região metropolitana e litoral, que possam subsidiar as políticas públicas, principalmente o planejamento urbano de Curitiba, contribuindo para a revisão do plano diretor do município”, explicou Pedro.
Também participa na coordenação do estudo a economista e nutricionista Elizandra Araújo e equipes técnicas do Ippuc e da SMSAN.
Potencial para ampliação das hortas
O estudo apurou que a cidade tem grande potencial para expansão de hortas comunitárias: em lotes privados vagos, foram identificados mais de 766 hectares. Também foram identificados 57 hectares em lotes públicos vagos e sem restrições como Áreas de Proteção Permanente (APP).
Não foram computados os lotes públicos que sediam escolas, parques e outros equipamentos, que possuem quantidades significativas de espaços com potencial, mas que demandam um tratamento diferenciado de políticas públicas para sua utilização.
Foi identificado também potencial para desenvolver a atividade agrícola em 77 hectares em faixa de domínio de linhões de energia da Copel e 19 hectares em faixas de domínio de ferrovias.
Referência em agricultura urbana
A gerente de Projetos e de Portfólio do Instituto Escolhas, Jaqueline da Luz Ferreira, justificou que Curitiba foi usada como exemplo porque a cidade é referência nacional em políticas públicas de fomento à agricultura urbana e periurbana.
“Por isso a cidade serviu de exemplo para sugerir ações que o Governo Federal pode fazer para apoiar os municípios na produção local de alimentos”, explicou Jaqueline.
Espaços para expansão da atividade
De acordo com Jaqueline, o levantamento mostrou o potencial de ampliar a produção local de alimento, ao identificar espaços para a expansão da atividade sem edificação e vegetação nativa.
“Foram identificados 1.506 hectares potenciais. Caso 5% do total desses hectares fossem utilizados para a produção de alimentos (cerca de 75 hectares) seria possível produzir 4.859 toneladas de legumes e verduras por ano, que abasteceria 137.978 pessoas”, citou Jaqueline.
Nova Fazenda Urbana
Curitiba já conta com 170 hortas espalhadas pelo município, que beneficiam mais de 36 mil pessoas direta e indiretamente em um projeto de melhor aproveitamento dos espaços urbanos vazios em Curitiba. Essa iniciativa não só contribui para a qualidade da alimentação dos curitibanos, mas também contribui para a saúde mental e a qualidade de vida da comunidade local.
Além da Fazenda Urbana do Cajuru, projeto pioneiro entre as capitais, a cidade irá contar futuramente com a Fazenda Urbana na CIC, em uma área de aproximadamente 11 mil m², integrada ao Parque dos Tropeiros.
A nova Fazenda Urbana contará com um laboratório para abelhas nativas sem ferrão, chamado Abelha LAB, com meliponário (abrigos de abelhas) para replicação de colmeias no bosque nativo, além de espaço para o manejo de mudas de araucárias, erva-mate e frutíferas nativas enxertadas.
E ainda com um Armazém da Família modelo, fundamentado com produtos da agricultura familiar, criando junto aos consumidores hábitos de boa alimentação, além de geração de renda nos cinturões verdes que circundam a metrópole.
Cozinha multifuncional e compostagem
A estrutura contará também com uma escola de Segurança Alimentar e Nutricional equipada com cozinha multifuncional e área para a compostagem, espaço de cultivo sustentável de alimentos, sede com áreas de administração, núcleo Regional da SMSAN, ecoworking, salas de aula e espaço para conferências e reuniões.
A proposta segue diretrizes da Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN) com suporte do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e das secretarias municipais de Obras Públicas (Smop) e do Meio Ambiente (SMMA) na implantação.