Atividades de robótica, horta, Jardim de Mel, caixas para manifestação de dificuldades enfrentadas pelas crianças, gritos de guerra são apenas algumas das atividades e movimentos que a professora Silmara de Souza Prestes Bertolino, de 50 anos, lidera na escola onde trabalha há dez anos – a Escola Municipal Dom Manuel da Silveira D’elboux, no Hugo Lange. A professora de Ensino Religioso não sossega e está sempre buscando modos de trabalhar os temas de forma diferente e muitas vezes inusitada.
Silmara interage com praticamente todas as 365 crianças da escola, integra atividades, concilia com os conteúdos explorados pelas professoras das outras áreas.
“Penso num ser humano inteiro, não em partes. Trabalhamos a inclusão cidadã, que a criança não fique alheia ao que está acontecendo a sua volta”, resume ao explicar como costuma direcionar as atividades propostas. Ela faz questão de enfatizar que trabalha com as crianças os temas de Ensino Religioso e Direitos Humanos.
Na rede municipal de ensino, o Ensino Religioso trabalha as quatro matrizes: indígena, africana, oriental e ocidental. “Percebi que a natureza estava em todas elas”, comenta ao destacar que foi um caminho natural desencadear atividades como o Jardim de Mel e a horta.
“Sempre quis trabalhar com as abelhas porque aqui perto da escola havia muitas. Fomos uma das primeiras escolas a capturar abelhas com garrafas pet. O projeto Jardins de Mel se encaixou perfeitamente”, conta. O programa da Prefeitura de Curitiba tem o objetivo de divulgar as abelhas nativas sem ferrão, responsáveis pela polinização de cerca de 90% das plantas brasileiras.
Da infância para a escola
O trabalho com as plantas foi um processo natural para Silmara, que trouxe da sua própria infância o amor pelas hortas, mundo que descobriu com os avós em Monte Castelo, Santa Catarina.
“Nossa horta é um laboratório sobre cada uma das nossas plantas. Também aprendemos sobre a compostagem. É incrível quando eles comem algo que eles mesmos plantaram. E mais: o que eles aprendem aqui, passam para a família e a comunidade. O conhecimento transborda e extrapola a escola”, comemora a professora apaixonada pelo que faz.
Ela destaca a importância da religiosidade, abordagem que é extremamente ligada à história. “Tudo leva à religião. As nossas crenças, valores estão todos conectados, sem preconceito, sem diferença. Isso é amor, é ser bom, somos feitos para fazer o bem, viver feliz, de forma solidária e gentil com todos. Um dos nossos lemas é ‘Um por todos, todos por um. Um por todos, todos por um mundo melhor’”, resume.
Integrando conteúdos, ela explora assuntos como reciclagem, trabalho infantil, abuso infantil, campanhas como a do Outubro Rosa, incentivando o autocuidado dos pais, o Setembro Amarelo, abrangendo, assim, temáticas transversais de direitos humanos.
Desafios
Fã de atividades que desafiem as crianças, Silmara, em parceria com a professora Grace Kanariski, de Ciências, mobilizou a comunidade escolar com o 1º Mini-Hackaton realizado neste ano. Desenvolvida por meio do Projeto Pesquisa-Ação, a atividade que buscava ampliar o conhecimento dos estudantes para as novas tecnologias por meio da robótica e o pensamento computacional começou com propostas individuais, e depois em equipe. Nas aulas de Ensino Religioso, a ideia era criar um robô para salvar a humanidade ou melhorar o dia a dia.
“Fizemos o mini-hackathon em sala e o desafio de programação entre as turmas, com o uso dos kits de robótica educacional LudoBot para fazer programação. Todas as turmas conseguiram experimentar os kits e testar suas programações”, detalha.
Depois, num sábado letivo, os pais foram desafiados a fazer a programação com os kits. “Vamos até final de dezembro com o envio do desafio para as famílias e assim vamos ter uma equipe representando as famílias”, completa.
Estratégia
A professora revela parte da sua estratégia para envolver as crianças nos projetos que propõe. “Primeiro eu ouço o que as crianças têm a dizer. Depois que as conheço, nivelo de acordo com os interesses. Aqui na escola, conheço todos os alunos, sei como eles pensam, sei quando estão tristes, fico sempre alerta. Quando entro na sala, é como se passasse um scanner”, detalha.
A partir dos sonhos, expectativas, inspirações das crianças, ela busca os projetos mais adequados. “E faço com que acreditem que aquilo que eles querem pode ser realizado”, completa.
Em 2021, na pandemia, ela trabalhou o tema da esperança e o esperançar. “O esperançar vai além do esperar, é preciso fazer para que as coisas aconteçam. A vida é um desafio. Incentivo para que não tenham preguiça de fazer as coisas e que não aceitem o pouco, pois eles podem muito”.
Diante de situações de bullying na escola, necessidade de falar sobre temas sensíveis, como sexualidade, ela propôs às crianças maiores, de 4º e 5º anos, o uso da Caixa da Liberdade, para que elas pudessem expressar-se.
“Ali eles colocam com sinceridade o que sentem. As crianças contam suas dores, seus problemas e deixam na caixa branca”. Após a leitura da professora, sem identificar as crianças, Silmara conversa sobre os assuntos que foram relatados. “Assim buscamos tentativas de soluções e colocamos na caixa laranja”, diz ela. Segundo a professora, para os orientais, o laranja significa amor, felicidade, boa saúde, energia positiva.
Ao rever sua trajetória na Educação em Curitiba, Silmara declara que o conhecimento tem sido importante. “Você se torna melhor cada vez que faz um curso. Sou muito grata por tudo que aprendi e que realizei com meus alunos. Tenho presentes, não alunos. A educação transforma”, conclui.