No Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Bairro Novo, o processo de ressocialização vem somado ao aprendizado de uma nova profissão. Um grupo de cinco usuários, por exemplo, participa de um curso de elétrica predial oferecido gratuitamente na Rua da Cidadania.
O curso é uma parceria entre o Senai-PR, a Administração da Regional do Bairro Novo e a Câmara Intersetorial da Prefeitura de Curitiba.
A Câmara Intersetorial inclui a Fundação de Assistência Social (FAS), a Fundação Estatal de Atenção à Saúde (Feas) e as secretarias municipais da Educação, Saúde e Esporte e Lazer).
A parceria com instituições que capacitem ou auxiliem os usuários dos Caps no retorno ao mercado de trabalho ajudam o usuário a alcançar o objetivo de seu tratamento: reinserção social e reabilitação psicossocial.
“A ressocialização é o pilar do processo de reabilitação”, diz a gerente de Saúde Mental da Feas, Juliana Czarnobay.
Os benefícios não param por aí. “Eles passaram a vivenciar experiências que já não faziam mais parte das suas rotinas”, conta a coordenadora do Caps Bairro Novo, Karin Gabardo.
“Para muitos, se comprometer em pegar o ônibus e chegar no horário em um compromisso eram atividades que eles já não conseguiam desempenhar”, observa Karin.
Superação
Para o eletrotécnico A.G., que concluiu o ensino médios nos anos 1970, voltar à sala de aula foi um grande desafio. “Muitas dessas contas de matemática eu não me lembrava mais”, comenta ele.
Incentivado pela família, o usuário buscou atendimento no Caps há quatro meses, quando “não dava mais conta de trabalhar, em razão do uso excessivo de álcool.
O curso de elétrica predial era uma possibilidade de agregar conhecimento em sua atual carreira profissional, o que o levou a aceitar participar do curso.
O esforço do eletrotécnico e dos demais alunos ganhou uma ajuda inesperada: a técnica de enfermagem Brenda Rodrigues de Oliveira se voluntariou para dar aulas em matemática e física básica para o grupo.
Para A.G., as aulas de reforço fizeram toda a diferença. “Quando eu comecei a conseguir resolver aquelas contas me deu vontade de soltar fogos de artifício”, relata emocionado.
O usuário já tem feito “bicos” na área durante o fim de semana, quando não está no curso ou em atividades do Caps.
“É impactante vê-lo falar de como o curso tem feito diferença na vida dele, de como o fez reconectar com o antigo trabalho”, revela a coordenadora do Caps.
Luís (nome fictício), de 22 anos, também está cursando elétrica predial. Chegou ao Caps com quadro depressivo e uso de drogas. Ele convive com quadros convulsivos desde a infância, quando foi vítima de bullying.
Foi no mercado de trabalho que seu quadro de saúde trouxe os principais problemas psicossociais. “Quando eu conseguia o emprego, mas falava que tinha convulsões, logo era mandado embora”, lamenta Luís.
O rapaz ficou surpreso ao saber das vagas do curso destinadas aos usuários. “Lá o foco é a formação. Ninguém veio falar do meu problema de saúde. Eu sou como qualquer outro aluno”, afirma Luís.
Parceria
“É uma parceria sensacional, ainda mais sabendo que eles [Senai] têm uma grande procura e lista de espera”, disse Karin Gabardo.
A seleção para o curso de janeiro já está sendo realizada. “Será de panificação e terá duração de três meses”, adianta.
Para participar, o interessado deve estar participando regularmente do tratamento e atender as condições clínicas avaliadas pelos profissionais de saúde do Caps Bairro Novo.
Feas
Os Centros de Atenção Psicossocial são administrados pela Feas. Com cerca de 4 mil funcionários, a fundação é um órgão da administração indireta da Prefeitura de Curitiba.
A Feas faz a gestão de 28 unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) de Curitiba, como o Hospital Municipal do Idoso; o programa Saúde em Casa; o Centro Médico Comunitário Bairro Novo; as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) Tatuquara, Boqueirão, Fazendinha e CIC; a Central Saúde Já Curitiba e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).