A Prefeitura de Curitiba implantou um hotel social para atender mulheres travestis e trans adultas em situação de rua. Instalado no Centro, o Hotel Social Eilat oferece hospedagem social e é o primeiro do Estado para acolhimento desse público.
O novo espaço tem 20 vagas e oferece acolhimento 24 horas, o que permite a flexibilidade nos horários de trabalho e a possibilidade de saída das ruas. Atualmente, o hotel social acolhe 12 pessoas.
A presidente da Fundação de Ação Social (FAS), Maria Alice Erthal, responsável pelas políticas da assistência social e do trabalho e emprego em Curitiba, explica que o hotel foi implantado para atender uma demanda identificada durante os atendimentos a pessoas em situação de rua na capital.
“As mulheres transgêneros e travestis sofrem com a violação de direitos, muitas vezes não conseguem acessar serviços, são expulsas de casa e não conseguem ser inseridas no mercado de trabalho”, disse.
De acordo com Maria Alice, o atendimento a mulheres travestis e trans tem especificidades, pois elas não podem ser acolhidas em unidades que abrigam homens e nem mesmo mulheres, para que se possa garantir a segurança e a qualidade de vida, importantes para a superação da situação de rua.
Plano de atendimento
A diretora de Atenção à População em Situação de Rua da FAS, Grace Kelly Puchetti Ferreira, explica que o atendimento no Hotel Eilat é feito de acordo com o perfil das acolhidas. Para isso, a equipe técnica da FAS realiza planos de trabalho individuais para atender as necessidades de cada uma.
No hotel, elas podem dormir protegidas em quartos e têm banheiros individuais, além de receberem café da manhã, almoço e jantar. Elas são incentivadas ainda a estudar, fazer cursos gratuitos e se capacitar para o mundo do trabalho.
Entre as atividades ofertadas no hotel, estão também rodas de conversa que tratam de assuntos importantes para essa população, como saúde, educação, habilidades sociais e trabalho.
Direitos Humanos
A projeto tem a parceria da Assessoria dos Direitos Humanos da Prefeitura de Curitiba que ajuda no trabalho de formação, capacitação e articulação junto à rede de atendimento de voluntários da sociedade civil.
Antes da abertura do hotel, a FAS capacitou as equipes dos Centros de Centros de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro Pop), dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), da Central de Encaminhamento Social (CES) e da Casa da Acolhida e do Regresso (CAR), que atendem e encaminham a população de rua para atendimento nas unidades do município.
Protegidas
Em Curitiba desde novembro de 2022, Babi Tarzine está acolhida no Hotel Eilat. “O hotel é maravilhoso, temos toda a assistência e um atendimento humanizado”, contou a paraense, que até então estava radicada na Paraíba. Babi chegou a Curitiba para uma proposta de emprego, mas acabou em situação de rua. “Sofri um golpe e perdi todo o dinheiro que eu tinha recebido de uma rescisão de trabalho”, contou.
Sem casa e sem dinheiro, Babi procurou acolhimento na FAS e atualmente trabalha como recepcionista em um restaurante do Centro. “Eu só tenho gratidão pela FAS mudar nossas vidas”, disse ela.
A venezuelana Gabriela Garcia, 26 anos, também é uma das acolhidas do novo hotel. Ela chegou a Curitiba há três semanas e buscou acolhimento. “Eu quero trabalhar, estou cansada de viver de benefício social. Quero correr atrás dos meus sonhos, juntar dinheiro e voltar para o meu país”, contou a cabeleireira, que sonha ter casa e salão de beleza próprios. Antes de chegar à capital, Gabriela morou no Peru, Colômbia, Argentina e Uruguai.
Bruna Vieira, 25 anos, encontrou no hotel social o apoio que precisava para viver melhor. Carioca, ela decidiu vir para Curitiba há quase dois anos para terminar o ensino médio. “Aqui é mil vezes melhor do que no Rio, o índice IDH (Índice de Desenvolvimento Humanos) em Curitiba é altíssimo. É o que nos atrai”, comentou. Bruna pretender se tornar comissária de voo.
A estudante elogiou o Hotel Eilat. “Aqui é bem melhor do que onde a gente estava. Agora estamos em um lugar específico para o público trans, o poder público teve esse olhar cuidadoso”, comentou.
Érika Panichek Ribeiro, 23 anos, pediu acolhimento no hotel social assim que soube da abertura da unidade, em janeiro. “Eu tinha muitas dificuldades com a minha mãe e ainda estávamos com problemas financeiras. Vim para cá para reorganizar a minha vida”, contou.
A jovem também aprovou a implantação do acolhimento. “Eu acho bom um lugar exclusivo para nós mulheres trans, pois é muita discriminação que sofremos lá fora”, comentou. “Aqui é um lugar que eu posso ser eu de uma maneira sem preconceito, ter segurança e, principalmente ter um quarto neste momento que eu estou desempregada.”