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Com novo cão-guia, Roberto volta a ter autonomia pelas ruas de Curitiba

Com novo cão-guia, Roberto volta a "enxergar" e ter autonomia pelas ruas de Curitiba. Foto: Mavi Bruzamolin

A vida do fisioterapeuta cego Roberto Conceição de Almeida Leite, 58 anos, voltou a ter autonomia e independência. A chegada do cão-guia Rock, um labrador retrivier de 1 ano e 8 meses, representa a possibilidade de Roberto se locomover com independência novamente pelas ruas de Curitiba.

Rock é o 10º cão-guia trabalhando em Curitiba e região metropolitana. Há nove na capital e um em São José dos Pinhais.

Na última semana terminou o treinamento de adaptação da dupla Roberto e Rock e o Departamento dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Prefeitura ajudou no processo, ao liberar um cartão de isenção temporária para que o instrutor do cão-guia acompanhasse o treinamento nos deslocamentos de Roberto e do Rock feitos em ônibus do transporte público.

Durante a semana que esteve em Curitiba, o instrutor e educador de mobilidade com o cão-guia Fabiano Pereira fez 20 viagens gratuitas de ônibus para acompanhar Roberto e Rock. A diretora do Departamento dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Denise Moraes, explicou que o trabalho feito em parceria com a Urbs garante essa isenção de passagem para instrutores de cães-guia, que têm os mesmos direitos da pessoa cega que usa o cão-guia.

“Circular com um cão-guia é um direito da pessoa cega. Nosso trabalho aqui é garantir os direitos das pessoas com deficiência. Já fizemos capacitações com motoristas, cobradores e com os empresários do transporte público para eles saberem o que são os cães-guia e a importância que eles têm para as pessoas cegas”, explicou Denise.

“Curitiba está à frente de outras cidades na disponibilidade do cartão de isenção temporária para o instrutor usar o transporte público”, explicou o instrutor Fabiano Pereira.

O uso do cão-guia por pessoas cegas é previsto pela Lei Federal 11.126/2005, que assegura à pessoa com deficiência visual acompanhada de cão-guia o direito de ingressar e de permanecer com o animal em todos os meios de transporte e em estabelecimentos abertos ao público, de uso público e privados de uso coletivo.

Reposição

Rock foi treinado no Instituto Magnus, que fica na cidade de Salto de Pirapora (SP), e veio para Curitiba para ser o novo cão-guia do Roberto no lugar de Dexter, que morreu em dezembro de 2022.

Dexter, um flat-coated retriever, ficou sete anos com Roberto, de 2015 a 2022, e morreu por causa de um tumor. “Foi muito rápida a evolução da doença e perder o Dexter foi como voltar a ficar cego”, contou Roberto, que afirmou que o cão-guia traz inúmeros benefícios.

“A liberdade que o cão-guia te proporciona é inigualável. Com uma bengala a cegueira passa a ser 'contagiosa'. As pessoas se sentem constrangidas em oferecer ajuda, têm receio de se aproximar. Já o cego com um cão-guia aproxima as pessoas, agrega. Eles querem estar perto, querem saber como é o trabalho de um cão-guia”, afirmou Leite.

Para conseguir o Rock, Roberto fez um cadastro no Instituto Magnus. São três instituições que treinam e disponibilizam cães-guia para o Sul do Brasil. Segundo o instrutor Fabiano Pereira, existem 200 cães-guia trabalhando no país.

“Não existe compra e venda de cão-guia e se oferecerem é picaretagem, golpe. Nossa instituição dá prioridade para as pessoas da fila que precisam de reposição de um cão-guia, em caso de aposentadoria do cão, cerca de oito anos, ou de morte, como foi o caso do Dexter”, contou.

De acordo com dados do censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), existem aproximadamente 600 mil cegos totais (sem visão alguma) no Brasil e outros 6 milhões de pessoas com baixa visão.

“Essa é a primeira vez que o Departamento dos Direitos da Pessoa com Deficiência acompanha a reposição de um cão-guia. Isso é inédito aqui em Curitiba”, explicou Denise Moraes. 

Predisposição genética e adaptação

Roberto ficou duas semanas em São Paulo fazendo a adaptação com Rock para formar a nova dupla. Neste período teve aulas teóricas e práticas. No terceiro dia teve contato com o cão-guia e desde então não se separaram mais.

O instrutor Fabiano Pereira explicou que os cães-guia têm predisposição genética para fazerem esse tipo de trabalho. Rock começou a ser treinado com 3 dias de vida. Depois de 60 dias foi para uma família voluntária para aprender a conviver em ambientes sociais e ter rotina. Ele ficou até os 15 meses de vida com a família e depois estava pronto para adaptação com uma pessoa cega. 

Entre as características de um cão-guia estão ser estável emocionalmente, ser um animal comprometido com vontade de servir, ter foco e ser concentrado. 

Companheiro de todos os momentos

Roberto, que além de fisioterapeuta é especialista em gerontologia (estudo do envelhecimento) e advogado, disse que vai usar o Rock para ir trabalhar, a eventos sociais com amigos, ao shopping, fazer compras em mercados, ao cinema e ver apresentações na escola da filha.

“Agora é vida comum, como se estivesse enxergando realmente. O Rock vai ser meus olhos, um grande parceiro e companheiro de todos os momentos”, definiu Roberto Leite

As pessoas que quiserem outras informações sobre como se inscrever em instituições para ter um cão-guia podem procurar o Departamento dos Direitos da Pessoa com Deficiência, na Rua Schiller, 159, no Cristo Rei.

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