Uma comissão para acompanhar a situação dos migrantes, refugiados e apátridas na cidade acaba de ser instituída pelo Conselho Municipal de Direitos Humanos de Curitiba. A informação é da Assessoria de Direitos Humanos da Prefeitura, que faz parte do foro e é responsável pela articulação da área com as políticas públicas de todos os órgãos da administração pública local.
“A meta é ampliar a atenção a esse público, que já é acolhido em Curitiba por meio de serviços como o nosso, entre tantos outros, e que estão à disposição de quem é daqui”, resume a assessora de Direitos Humanos, Elenice Malzoni. Os nomes dos representantes que ficarão à frente da nova comissão serão definidos na próxima reunião do Conselho, no dia 9 de julho.
A força da mulher migrante
Curitiba é uma cidade aberta aos migrantes. Para as mulheres, que contam com uma assessoria própria também sob a coordenação de Elenice, o objetivo é promover a inclusão social por meio de rodas de conversa, atividades culturais e encaminhamento para cursos voltados à profissionalização e ao empreendedorismo.
A cuidadora de idosos mexicana Sílvia Reyes Vieyra, a empreendedora venezuelana Luisis Muscarneri e a estudante congolesa de Relações Internacionais Clotilde Munongo fazem parte desse público. Elas participam de organizações não-governamentais parceiras da Assessoria de Direitos Humanos e, em comum, têm o objetivo de fortalecer a força de trabalho e os produtos criados por mulheres migrantes.
“É muito importante também para a autoestima de mulheres com situações familiares complicadas como eu, que venho de uma relação abusiva”, conta Silvia, que também amadurece um projeto para produção de sacolas reutilizáveis. Clotilde aposta também na preparação de comida para eventos, enquanto Luisis se dedica à criação de um ambiente on-line para promover a atividade econômica das migrantes estabelecidas em Curitiba.
Cidade que integra os migrantes
Eles podem ser encontrados, por exemplo, na rede municipal de ensino, onde estão 2.840 estudantes de 44 países. Venezuela e Cuba respondem por 90% das nacionalidades presentes nas salas de aula, onde também podem ser ouvidos sotaques de japoneses, turcos, portugueses, ucranianos, estadunidenses e angolanos, entre vários outros.
Quem chega à cidade também precisa de outros serviços, para os quais as dez Administrações Regionais podem encaminhar. Foi na do Bairro Novo que o casal surdo Julio Alejandro Rojas Caballero e Emily Ruth Gonzalez Rivas, vindo da Venezuela, conseguiu encaminhar a documentação. Do outro lado da rua, no Cras (Centro de Referência da Assistência Social), conseguiu dar entrada no BPC (Benefício de Prestação Continuada).
O auxílio pago pelo governo federal é essencial para manter o casal e o filho brasileiro, Felipe, de 2 anos. Desempregados, Julio e Emily procuram oportunidades de trabalho e, com a ajuda da Secretaria Municipal da Educação, uma vaga em CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) para o pequeno. “Preferencialmente no Sítio Cercado, onde moramos”, contam sobre a expectativa da vaga.
A conversa com a equipe da Prefeitura é intermediada pela intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) Sandra Mathias, da Central de Libras do Departamento dos Direitos da Pessoa Com Deficiência. O serviço, que é grátis e aberto a toda a população, pode ser acionado cada vez que também um migrante surdo precisar se comunicar.
Quem também recorre aos serviços da Prefeitura na Rua da Cidadania do Bairro Novo é o grupo de cubanos liderado por Yamilka Forteza. Entre eles estão os dois filhos, marido, um neto e amigos que chegaram ao Brasil pelo Oiapoque, na Região Norte, e elegeram Curitiba para viver. “Aqui somos acolhidos e temos respeito”, conta Hamilka, que trabalha em um supermercado e tem a filha matriculada no Colégio Estadual Hasbrubal Bellegard.
A língua do futebol
É na Rua da Cidadania do Boqueirão que, há quase 3 anos, o técnico voluntário venezuelano de futebol José Gregorio Villalba encontra espaço para treinar os jogadores do Projeto BrasVen. “A proposta foi minha, para reunir e integrar os venezuelanos que vieram para Curitiba, mas é aberto a quem quiser participar. Tendo vaga, são todos bem-vindos. É intercultural”, conta José.
Das 35 vagas, 30 estão ocupadas também por meninas e meninos haitianos, cubanos e colombianos de 5 a 15 anos de idade. As aulas duram cerca de 1h30, em momentos que respeitem o horário de trabalho do treinador, que dá aulas de futebol na Região Metropolitana. Por isso, a garotada do projeto treina às quartas e sextas-feiras a partir das 18h e, aos sábados, a partir das 9h.