Em 2024, a Casa da Mulher Brasileira fez 20,6 mil atendimentos em Curitiba. A unidade é uma das dez em funcionamento atualmente no país e tem se destacado. É referência no atendimento a todos os tipos de violência contra a mulher, previstos na Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) – física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Em mais de oito anos de funcionamento, foram mais de 126 mil atendimentos.
A responsável pela coordenação da Casa desde o primeiro dia, em junho de 2016, é Sandra Marques Prado, 63 anos. Ela é uma das mais de 21.590 mulheres que trabalham na Prefeitura de Curitiba e representam 80% do total de servidores.
Sandra observa que muita coisa mudou desde 2016.
“As mulheres vêm denunciando mais, elas vêm procurar ajuda, têm mais consciência de que vivem um relacionamento abusivo. Mesmo aquelas que procuram a gente por telefone ou numa roda de conversa, relatando uma situação que elas dizem ter ocorrido com uma amiga, muitas vezes estão buscando auxílio para si mesmas”, descreve.
Sandra avalia que as mulheres já entenderam que a Casa da Mulher Brasileira é uma unidade da Prefeitura de Curitiba onde elas podem buscar ajuda. “Essa Casa nunca fechou”, declara. De junho de 2016 até agora, cerca de 1.800 mulheres passaram pelo alojamento da Casa.
A coordenadora ressalta que o período da pandemia foi emblemático, pois muitas mulheres passaram a sofrer violência domiciliar quando todos estavam em casa.
Ela se orgulha de a unidade de Curitiba ser considerada a melhor Casa da Mulher Brasileira do Brasil. “Somos referência, as outras equipes vêm ver o que conseguimos fazer em Curitiba. Tivemos avanços na estrutura física, na área de recursos humanos. Nós mobilizamos diversos setores, conseguimos trazer a sociedade civil”, observa. Cerca de 170 pessoas trabalham na unidade atualmente. “E todas as pessoas que passaram por aqui deixaram a sua contribuição. É muito gratificante recebermos mulheres que superaram a violência e voltam aqui para agradecer”, conta emocionada.
A Delegacia da Mulher, que inicialmente funcionava noutro local, há seis anos funciona 24 horas na Casa.
Da mulher, das crianças e dos pets
Uma das inovações é a casa ser pet friendly, ou seja, as mulheres que chegam podem levar os pets para o alojamento animal instalado no local. “São animais de apoio, de assistência”, diz Sandra, ao citar, além de cães e gatos, hamster, coelho, passarinho e até ovelha.
Sandra destaca uma pesquisa científica feita pela Universidade Federal do Paraná na Casa da Mulher em 2020 e 2021. O estudo revelou que a cada 100 mulheres que sofrem violência e têm animais de estimação, 90 delas relatam que os pets também foram vítimas do agressor.
“Isso é muito cruel”, diz. “Mas o que mais pesa é quando atingem as crianças, pois elas precisam de proteção, estão passando pelo pior momento da vida delas. Nunca é só a mulher a afetada pela violência. A violência atinge a todos naquela casa, quando é um lar abusivo”, explica.
Outros diferenciais são a equipe da Polícia Militar que faz a coleta de pertences das mulheres alojadas, a perícia criminal e o botão de pânico sincronizado à Muralha Digital, com atendimento 24 horas. “O botão do pânico tem salvado vidas”, resume.
De volta à Casa
Sandra destaca que existem casos em que a vítima volta à Casa da Mulher Brasileira mais de uma vez. “Não importa que elas precisem voltar porque passaram de novo por uma situação de violência. Tem que ter coragem para chegar até aqui. Cada uma tem seu tempo de conscientização e desapego. É preciso ressignificar tantas coisas. A autonomia emocional e econômica precisa ser conquistada”, comenta.
Formada em Educação Física e em Ciência Política, Sandra se diz vitoriosa. “Nesses anos aqui, tive um câncer e eu venci trabalhando. Me sinto realizada como mulher e como servidora”, declara.