Na iminência da era dos veículos autônomos e já inseridos numa realidade em que grandes escritórios equipados com computadores interligados por fios estão prestes a virar espaços ociosos é preciso renovar o olhar para os ambientes urbanos e as relações das cidades com seus habitantes.
“Podemos combinar a parte física à digital. É o que chamam de Cidades Inteligentes, mas preferimos considerar como Cidade Sensível”, afirmou o arquiteto e diretor do Senseable City Lab do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), Carlo Ratti, na palestra de abertura do Smart City Expo, nesta quarta-feira (28/2), no Expo Renault Barigui.
Pela primeira vez em Curitiba, o arquiteto nascido em Turin disse que já leu bastante sobre a cidade. “Curitiba esteve à frente da inovação urbana em um passado recente e é muito interessante saber qual será a próxima onda de inovação na cidade”, disse Ratti.
A construção de uma cidade sensível, segundo Ratti, deve ter como princípio o respeito às condições locais. “Importante é discutir qual cidade queremos amanhã. Curitiba é uma cidade inovadora em mobilidade. Então é interessante olhar como serão as mudanças no processo de mobilidade e usar a tecnologia para isso.”
Para Ratti, o processo de mudança deve ter alicerce na educação, em universidades públicas e privadas, com o aproveitamento da convergência tecnológica neste campo.
A informação, a partir do Big Data, é a base para promover mudanças. É a forma de utilização do volume de dados disponíveis, sejam eles estruturados ou não, que vai dar a direção do processo de planejamento.
Mobilidade compartilhada
Um exemplo apresentado por Ratti é a do uso compartilhado de táxis ou Uberpool para um mesmo destino, que poderia reduzir em até 40% o volume de veículos circulantes em Nova York.
Mesmo estudo feito em San Francisco apontou que o percentual de redução carros em circulação chegaria a 50%, com o compartilhamento de viagens em veículos de frota. “A cidade pode funcionar com menor necessidade de infraestrutura para carros se você compartilhar a mobilidade. Nessa área novas tecnologias vão permitir que surjam diferentes oportunidades”, observou.
Segundo Ratti, os carros autônomos são exemplos nesse processo, possibilitando no futuro que o uso do veículo seja contínuo e ele não fique ocioso na garagem. Essa tecnologia de carros autônomos também poderá dispensar o uso de semáforos.
Pelos padrões do arquiteto suíço Le Corbusier, conforme destacou Ratti, o planejamento urbano segmentava os ambientes com funções distintas para o trabalho, o lazer e a moradia. Na era digital há a mistura dessas funções em ambientes comuns.
As vendas de varejo, até então comumente feitas em grandes ambientes de mercado, já cedem espaço ao ambiente virtual que se completa pelo delivery. Oferecer a possibilidade da experiência de compra, com o consumidor ir à loja, conhecer o processo de produção ou podendo rastrear o produto desde a origem é uma alternativa para fazer com que as pessoas saiam de casa e busquem ambientes de compra.
Sobre as novas experiências possíveis em ambientes de compra Ratti citou como exemplo uma crônica de Italo Calvino.
Mr. Palomar is standing in line in a cheese shop, in Paris... Behind every cheese there is a pasture of a different green under a different sky. This shop is a museum: Mr. Palomar, visiting it, feels as he does in the Louvre, behind every displayed object the presence of the civilization that has given it form and takes form from it. “O Sr. Palomar está na fila em uma loja de queijos, em Paris ... Atrás de cada queijo há um verde diferente sob um céu diferente. Esta loja é um museu: o Sr. Palomar, ao visitá-la sente, como no Louvre, em cada objeto exposto a presença da civilização que lhe deu forma e dele toma forma.
Big Data
Levando em conta a mudança de escala é necessário planejar as cidades fazendo uso do Big Data. “Com essas informações podemos ter um desenho melhor, podemos mensurar muitas coisas, identificar padrões, comunidades e a interação digital”, disse Ratti.
Ele lembrou que, nas últimas décadas, a metragem mínima para um escritório era de 20m². “Hoje é possível trabalhar em uma estação de 5m² a 6m² em espaços de coworking e interação. Podemos compartilhar coisas e fazer muito mais juntos do que fazíamos sozinhos.”