Ir para o conteúdo
Prefeitura Municipal de Curitiba Acessibilidade Curitiba-Ouve 156 Acesso à informação
Desafio

“Barrada” em concerto na infância, coordenadora da Camerata quer levar música da orquestra para todos

Janete, coordenadora de Música do Instituto Curitiba de Arte e Cultura (Icac), trabalha para popularizar a Camerata. Curitiba, 08/04/2025. FOTO: Isabella Mayer/SECOM

Janete Andrade era ainda uma menina quando foi com a avó assistir a uma apresentação da Camerata Antiqua, um conjunto de coro e orquestra formado dois anos antes para interpretar grandes nomes da música clássica em Curitiba. O ano era 1976 e o concerto era fechado, apenas para convidados, no Auditório Salvador de Ferrante. A menina de 13 anos e a avó acabaram não entrando. “Fiquei na rua. E muito decepcionada”, diz Janete.

A porta na cara marcou a menina, mas o episódio seria apenas um contratempo no que viria a ser uma longa relação com a música e, mais especificamente, com a Camerata. Janete estudou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná; fez uma especialização em oboé barroco na Schola Cantorum Basiliensis, na Suíça; participou de workshops e cursos de extensão na Holanda, França e Alemanha, onde fez sua peregrinação pelos locais em que Johann Sebastian Bach, seu compositor predileto, morou, compôs e se apresentou.

Trajetória

Na sequência, Janete atuou como primeiro oboísta na Orquestra da Sociedade Bach de São Paulo e foi consultora do Theatro Municipal de São Paulo e do Palácio das Artes de Belo Horizonte. Trabalhou também na Secretaria de Estado da Cultura do Paraná como assessora de música, até voltar para a Camerata, que, dessa vez, a recebeu com as portas abertas. Inicialmente, atuou como musicista convidada. Em 2001, foi convidada para assumir a coordenação de Música da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), cargo que ocupou até 2003. Desde 2004, é coordenadora de Música do Instituto Curitiba de Arte e Cultura (Icac), organização social que executa as políticas públicas gerenciadas pela FCC. É ela que, desde 2004, está à frente dos principais programas e espaços de música na cidade, como a Capela Santa Maria, o Conservatório de Música Popular de Curitiba, a Oficina de Música de Curitiba, e, claro, a Camerata.

A menina que ficou na porta em 1976 acompanhou a Camerata em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Assunção, Montevideu e Buenos Aires, perdendo as contas de quantas apresentações viu do grupo. Quase tudo relacionado a Camerata passa por Janete. Questões artísticas e de repertório, agenda, problemas administrativos, e, claro, de gestão de pessoas. Afinal, são 40 artistas ensaiando, se apresentando e viajando juntos.  

“Nosso trabalho envolve naturalmente uma carga emotiva muito alta. A música tem isso. Emoções que estão à flor da pele. É um prazer, mas é também uma responsabilidade e um desafio”, explica Janete.

Mais ouvintes

Garantida a harmonia do grupo, Janete trabalha para popularizar a Camerata. Por isso, o grupo tem se esforçado para sair da Capela Santa Maria, seu habitat natural. Os músicos têm tocado em igrejas, hospitais e outros espaços públicos na busca por novos públicos e ouvintes.

Janete sabe que esse esforço vale a pena. Filha de pai caminhoneiro e de mãe costureira, ela lembra do choque provocado pela novela Bravo exibida pela rede Globo entre 1975 e 1976. A produção de Janete Clair e Gilberto Braga trazia uma ampla trilha sonora orquestrada com Brahms, Villa-Lobos e Tchaikovsky. “Eu adorei aquilo e quis conhecer mais.”

A menina moradora da Vila Hauer matriculou-se então num curso de flauta doce, disponibilizado pela Prefeitura no Parque São Lourenço, em 1976.  “Posso dizer que eu mesma sou fruto de uma política pública que deu resultado. De levar a música para crianças e jovens”, conta.