Esquecer o nome de uma pessoa, um número de telefone, o que iria fazer. De acordo com a terapeuta ocupacional Ana Lúcia Garcia, fatores como o estresse diário, a falta de atenção, o envelhecimento e a tecnologia em excesso contribuem para que surjam dificuldades causadas pela perda da memória.
“Hoje em dia está tudo na mão, as pessoas não precisam mais decorar um número de telefone, o nome de uma pessoa, o endereço, e isso deixa o cérebro preguiçoso”, declara Ana Lúcia. Ela diz que todos, em qualquer idade, precisam de foco e atenção nas suas atividades. "E fazer várias coisas ao mesmo tempo não ajuda a manter a concentração", observa.
Ana Lúcia afirma que, no caso do idosos, uma das queixas frequentes está relacionada ao esquecimento do nome das pessoas. "Eles dizem que dá um branco. Eu explico a eles que, quando deixam de conviver, conversar com aquela pessoa, isso pode acontecer", conta a especialista, que trabalha com o tema há dez anos.
Segundo ela, a partir da fase da aposentadoria, quando a pessoa deixa de ter a rotina do trabalho, é preciso manter-se ativo mentalmente, cognitivamente e fisicamente, criando uma nova rotina de vida.
Prevenção
A professora aposentada da Prefeitura Adelane Amaral procurou a oficina de memória, uma das atividades oferecidas pelo programa Vida Nova, do Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Curitiba, o IPMC.
A oficina é voltada para os aposentados da Prefeitura. Adelane também pratica em casa os exercícios estudados, para que a memória esteja sempre ativa.
Esta é a orientação da professora Ana Lúcia para quem participa da oficina, que tem o propósito de aprimorar e prevenir. "Gosto muito de trabalhar na prevenção. Para isso, eles têm que continuar praticando no dia a dia", declara.
Aluno há mais de um ano da oficina de memória do Vida Nova, o servidor aposentado Osmail Ferreira de Paula, que trabalhou na área de jardinagem, explica a importância das técnicas praticadas para superar sua dificuldade de memória. “Antes eu tinha mais dificuldade de lembrar de muitas coisas, eu ficava nervoso e acabava esquecendo. Com as dicas da oficina, minha memória melhorou, para mim foi importante.”
Adelane e Osmail são colegas da servidora aposentada do setor de recursos humanos Maria Pavilak. “Eu penso: vou ficar em casa fazendo o que? Na oficina eu vejo pessoas novas, converso sobre assuntos diferentes, se eu ficar em casa fico só na frente da TV ou do computador”, afirma Maria.
Ela conta que tinha muita dificuldade para gravar números de telefone e outras informações rápidas, coisas que hoje já lembra com facilidade.
O papel da família
A terapeuta ocupacional Ana Lúcia Garcia revela que a família tem um papel importante na identificação de situações de perda de memória. "Muitas vezes as pessoas não percebem quando a perda de memória pode atrapalhar o dia a dia. A família deve prestar atenção nisso", ensina. "E em alguns casos, a família não percebe porque não consegue lidar com a finitude", completa.
Por outro lado, a terapeuta destaca que tirar a autonomia e a independência de uma pessoa idosa não é o melhor caminho. "Muitos filhos preferem fazer as coisas para os pais quando eles chegam nesta fase da vida. Isso pode não ajudar. Ter atividades diárias, como ir ao mercado fazer compras, preparar a refeição, limpar a casa, cuidar das suas coisas a seu modo são importantes para a pessoa idosa", diz ela.
Ela ressalta que fazer alguma atividade física ou artesanal também ajuda muito. Ana Lúcia exemplifica com o tricô e o crochê. Na oficina do programa Vida Nova, ela trabalha por módulos, um a cada mês. O objetivo é mostrar exercícios de memória para o dia a dia. Um dos módulos utiliza a música. "Trabalhamos sincronia, ritmo e coordenação motora, tudo isso tem a ver com a memória. A pessoa precisa gravar para poder repetir", afirma.
A oficina tem atividades de 1h30, uma vez por semana, por R$ 70 mensais, valor que é pago diretamente para a professora. Há duas turmas. No mês de maio, os módulos disponíveis serão “Cuidando da memória recente”, às quintas-feiras das 8h30 às 10h, e “Memória x Atitudes positivas”, às segundas-feiras das 14h às 15h30.
O programa Vida Nova oferece outras atividades para os aposentados da Prefeitura que são gratuitas, como dança, música, artesanato, meditação, coral. O Vida Nova funciona no Edifício Delta, 2° Andar – Torre C, na Avenida João Gualberto, 623, Alto da Glória. Para mais informações, o telefone para contato é 3350 9516.
FAS e SMELJ proporcionam atividades de convivência para a população
Na Fundação de Ação Social (FAS) os idosos também encontram atividades que ajudam manter o corpo e a cabeça saudáveis. Eles podem fazer artesanato, canto em seresta, danças de salão e circular, ioga e pintura em tela.
As atividades – que fazem parte do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) - acontecem nos Centros de Referência da Assistência Social (Cras) e reúnem atualmente 3.076 pessoas. E, também, nos Centros de Atividades para Pessoas Idosos (Catis), onde há outros 974 idosos atendidos.
Envelhecimento sadio
Para a coordenadora da Diretoria de Proteção Social Básica, Cíntia Leitão Dalcuche, as atividades de convivência são importantes para que o avanço da idade seja sadio e sem riscos. “Com esses grupos, nós contribuímos para o processo de envelhecimento ativo e saudável, já que asseguramos espaços de socialização e orientações sobre direito sociais. Isso promove a convivência e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, o que previne a vivência ou reincidência em situações de riscos”, explica.
Por meio da Secretaria do Esporte, Lazer e Juventude (Smelj), a Prefeitura oferece diversas atividades esportivas, recreativas e de lazer para os idosos. O programa Idoso em Movimento promove grupos de caminhadas nas Administrações Regionais, além de atividades de ginástica e alongamentos.
Os idosos também têm as opções de natação e hidroginástica nos Clubes da Gente. Tudo é feito gratuitamente, mediante matrícula nos equipamentos públicos da Smelj. Dança e aulas de ritmos nos Centros de Esporte e Lazer também são possibilidades de atividades físicas oferecidas aos idosos pela Prefeitura.
Dicas que podem ajudar a exercitar a memória
- Menos tempo no celular com aplicativos e mensagens. O idoso precisa conviver com outras pessoas. É importante ter momentos de lazer, de convivência, se relacionar, manter e fazer novos amigos. Os amigos têm papel importante nesta fase da vida.
- Os jogos de tabuleiro são uma boa forma de convivência. Eles também ajudam porque exigem concentração. Palavras cruzadas e o sudoku também são bons recursos.
- Aprender algo novo, pode ser música, um instrumento, língua estrangeira, artesanato.
- Ler é um bom exercício para que a pessoa mantenha o cérebro em atividade. Deve ser uma leitura que a pessoa goste. E é importante ela falar ou escrever depois sobre o que leu.
- Fazer atividades físicas.
- Viajar em família ou em grupos. Conhecer lugares novos.