Atendido pela Prefeitura de Curitiba no programa Morada Nova Vida Nova, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano, e no Centro de Referência Especializado para População de Rua (Centro POP), da Fundação de Ação Social (FAS), Júlio César Ferreira, 58 anos, é um artista autodidata que transforma sua criatividade em arte, apesar dos desafios que enfrenta todos os dias.
Júlio se inscreveu no concurso Desenhos do Paraná, promovido pela RPC, que visa destacar desenhos feitos à mão por artistas amadores de todo o Estado. Os trabalhos selecionados irão ilustrar o livro comemorativo dos 40 anos da Campanha Bicho do Paraná.
A participação era aberta a maiores de 18 anos, com a exigência de que os desenhos representassem algum elemento característico do Estado. As inscrições terminaram no último domingo (9/3) e, nesta sexta-feira (14), serão divulgados os semifinalistas do concurso, com avaliação de especialistas renomados da área.
“Estou otimista que meu desenho esteja entre os escolhidos e mostrar o que tanto gosto de fazer, que é desenhar e pintar”, conta Júlio.
Artista talentoso
Sem telefone ou internet, o homem contou com o apoio de servidores da FAS para fazer a inscrição.
"Ele soube do concurso e pediu ajuda para se inscrever. Prontamente entrei no site, li com ele sobre o regulamento e o orientei em todo o processo. Júlio é um artista e merece que as pessoas conheçam o seu talento e sua arte", diz Grace Puchetti, que trabalha no Centro Intersetorial de Atendimento às Pessoas em Situação de Rua.
Símbolo de Curitiba
Para participar do concurso, Júlio criou um desenho de uma capivara, símbolo de Curitiba, usando EVA, tinta guache e pincel. Além de tintas, ele costuma usar em sua arte vidro, pele e tecido. Esta é a primeira vez que participa de um concurso.
Júlio conta que costuma vender a arte que produz, quando encontra interessados, o que o ajuda a cobrir as despesas. “Tenho dificuldades de comprar material, e por isso sempre peço ajuda e conto com a solidariedade de pessoas para comprar o que preciso para produzir meus trabalhos”, diz.
Além de desenhar e pintar, ele também é cabeleireiro.
Projeto de reciclagem
Apesar de seu talento, Júlio enfrenta desafios devido à dependência química e à situação de rua. São aproximadamente 20 anos em que ele passa períodos nas ruas e em acolhimentos ofertados pelo município. Sua trajetória é marcada por tentativas de reabilitação em comunidades terapêuticas. “Perdi as contas de quantas vezes tentei ficar limpo, mas acabo tendo recaídas”, diz.
Atualmente, Júlio participa do projeto Reciclar, Reaproveitar, Criar e Doar, desenvolvido pelo Centro POP Doutor Faivre. No projeto, ele passa o dia produzindo jogos educativos a partir de materiais recicláveis, que são doados para unidades da instituição que atendem crianças e adolescentes. Entre as criações estão tabuleiros de xadrez, dominó, jogo da velha, pebolim e jogo da memória.