Quando Kimberly Mahara se deu conta, sua irmã Adriele dos Santos já estava no meio da rua, em frente de casa, com o filho, Olavo dos Santos Melo, de 11 meses, nos braços. A mãe erguia o menino, ao mesmo tempo que suplicava por ajuda, enquanto Olavo começava a ter convulsões.
Diante de uma mãe em desespero, sem saber como agir para salvar o filho, coube a Kimberly buscar ajuda de alguém que os levasse em busca de socorro. O cunhado foi acionado e o destino escolhido foi a Unidade de Saúde São Paulo, a cerca de três minutos da residência da família.
Dali para frente, o destino do Olavo estaria nas mãos daqueles profissionais. “Quando chegamos na unidade, joguei o Olavo na mão da primeira enfermeira que eu vi”, lembra a tia do menino.
Diante da gravidade do caso, as médicas Luciana Siqueira de Oliveira e Juliana Boni Cruz, a enfermeira Denise Maria Cresto Heuer e a técnicas de enfermagem Vanessa Andrade, Giovana Lara e Danielle Alves Lins logo se somaram à missão de salvar a vida do bebê.
“Quando ele chegou, ele estava afogado, chamamos enfermeira, médica, começamos a fazer as manobras. Passamos a sonda oral e nasal, começamos a puncionar (perfuração com agulha) uma veia, dar suporte de oxigênio”, conta Danielle. De acordo com a autoridade sanitária da Unidade de Saúde São Paulo, Alexandra Dal Pra Luz, durante as manobras, chegou-se a aspirar 100 ml de leite que havia parado no pulmão do bebê.
“Eu digo que tivemos uma união muito satisfatória da equipe, porque precisávamos fazer essa criança voltar. Teve todo o nosso profissionalismo e Deus colocou a mão na gente, porque o Olavo estava desfalecido”, lembra Danielle.
“Estar aqui conversando hoje é muito gratificante por saber que essa criança está viva, porque todas ficamos muito preocupadas”, completa.
Quando a equipe do Samu chegou, com a médica Claudiane Seixas Carraro, com o condutor socorrista, William Bruno, e com o enfermeiro Abelardo Gasparini Borges, 15 minutos depois, Olavo estava estável, mas ainda molinho, por ter tido várias crises convulsivas. “Nosso papel naquele momento foi fazer a regulação dele e encaminhar direto para um hospital de referência”, explica Claudiane.
Situação exige calma
De acordo com o médico e diretor do Departamento de Urgência e Emergência, Pedro Almeida, casos como o de Olavo não são incomuns. Curitiba registra todos os dias cerca de dois a três casos de engasgos graves, normalmente envolvendo crianças, idosos ou pessoas com deficiência de deglutição.
Segundo Almeida, em casos como esse, é preciso manter a calma, na medida do possível, e comandar para quem está junto para ligar para o Samu (telefone 192), enquanto vai realizando manobras de desengasgo (veja a demonstração no vídeo).
“A primeira coisa é reconhecer se a pessoa está com a respiração ofegante ou com esforço, algumas pessoas podem bater a asa do nariz, isso é um sinal de esforço respiratório e indica alteração do padrão respiratório. Se tiver ruído na via área é sinal de obstrução”, orienta o médico.
Segundo Almeida, não se deve chacoalhar o bebê. “Numa obstrução leve pode levantar o bebê para ele tossir. Numa obstrução severa, que ele não está emitindo som nenhum, é preciso fazer a manobra de desobstrução de via área”, recomenda (leia mais abaixo).
Segundo o médico, bebês têm respiração nasal, pois é uma adaptação para mamar, o que pode ser um fator de risco quando estão resfriados. “O catarro fica no nariz. Ele vai tentar puxar o leite e vai catarro. É importante desobstruir nariz com o soro, como forma de prevenção, para ele respirar melhor e não engasgar”, ensina.
Com o filho Olavo nos braços, sorridente e sem nenhuma sequela, Adriele comemora o final feliz de sua história. “Eu realmente senti que ele ia morrer, foi um susto muito grande. Teve um momento que a médica saiu e disse: ‘ele não está nada bem’. Nessa hora pensei, ‘ai, meu Deus!’. Você troca a sua vida pela do seu filho. Naquele dia eu realmente senti que ia perder ele”, relembra.
“Foi um grande livramento, foi um milagre, a notícia poderia ser triste. Foram muitos anjos que atuaram, verdadeiros profissionais”, completa.
O que fazer em caso de engasgo
1 – Peça para alguém acionar o Samu, pelo 192
2 – Segure o pescocinho do bebê no seu antebraço e faça cinco compressões no peito (osso esterno).
3 – Segurando, ainda, o pescocinho, vire o bebê e dê cinco tapinhas nas costas.
4 - Volte para posição inicial e retome o ciclo até que a criança chore.
Observação: se a criança for maior pode adaptar a manobra com ela apoiada na coxa do adulto.