Uma família de macacos Muriqui que habita uma das ilhas do Passeio Público é um ótimo exemplo de sustentabilidade. No Centro da cidade, o casal e o seu filhote vivem soltos na natureza, sem jaulas ou grades, num ambiente muito próximo ao habitat natural da espécie, que é uma das mais ameaçadas do planeta.
E esta é apenas uma das surpresas que o Passeio Público reserva aos seus visitantes. No dia em que comemora 127 anos de existência, nesta quinta-feira (2), o parque mais antigo de Curitiba vive um momento de renovação.
“As famílias estão voltando a frequentar o Passeio Público, o que tem sido uma experiência emocionante para nós”, conta a bióloga Tereza Cristina Castellano, chefe da Unidade de Zoológico da Prefeitura de Curitiba. Paulista, ela conta que se encantou com o Passeio desde a primeira vez em que esteve no local, como turista, há mais de 30 anos. “Sou uma apaixonada pelo Passeio Público”, declara Tereza, que há 21 anos trabalha na Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
Para comemorar o aniversário do parque, onze banners foram instalados em pontos estratégicos. Eles narram um pouco da história do local, fundado em 1886 com a principal função de conter enchentes. “Além de fotos antigas e explicações de como era o Passeio décadas atrás, as placas também contam ao visitante um pouco sobre os primatas que atualmente habitam no parque.
No total são 27, de três espécies diferentes, divididos em quatro ilhas. Há 13 saguis de tufo preto; dez macacos aranha, sendo três filhotes, e os três muriquis numa das ilhas, além do muriqui Léo, que chegou ao Passeio após uma apreensão e vive num recinto extra, em fase de adaptação.
Fauna local
Entre os 400 animais de mais de 150 espécies diferentes que habitam o local, Tereza Cristina não esconde quais são seus prediletos: o casal de muriquis Roby e Fernanda e o filhote Giba, que nasceu no Passeio Público no ano passado. “São animais muito dóceis e pacíficos”, diz a bióloga. “Em tupi-guarani, muriqui significa povo manso da floresta”, informa.
O macaco Muriqui é uma espécie exclusivamente brasileira, candidata a ser a mascote das Olimpíadas de 2016, e uma das mais ameaçadas do planeta. “Não há mais que dois mil animais destes no mundo”, conta a bióloga. No Passeio Público, a família mora na maior das ilhas.
A experiência bem sucedida de reprodução no local faz parte de um Plano de Ação Nacional para Conservação de Muriquis. “Eles têm aqui na ilha um ambiente muito próximo ao habitat natural, livre de estresse e propício á reprodução”, explica Tereza.
Um dos seis tratadores de animais do Passeio Público, João Moisés Campos, é o encarregado de alimentar duas vezes por dia os muriquis. Ele conta que os animais são vegetarianos e recebem cerca de um quilo de frutas e folhas por dia cada um.
“Há 18 anos trabalho aqui, amo esses animais e não imagino a minha vida longe deles”, diz o tratador. “Se algum deles não está bem, eu percebo na hora e logo aviso a um dos veterinários da equipe”, conta.
A estrutura
No Passeio Público há aproximadamente 400 pequenos animais, de mais de 150 espécies diferentes. São mamíferos, aves, répteis e peixes.
Numa área de quase 70 mil metros quadrados, com muitas ilhas e pontes, há diversas espécies nativas e exóticas. Entre as árvores estão carvalhos, ciprestes, paineiras, jacarandás, plátanos, ipês-amarelos, canelas e eucaliptos.
Uma das atrações do parque é um terrário que abriga serpentes e lagartos de espécies exóticas e raras, vindas de diversas partes do mundo. Também há um aquário, com variedades de peixes de rios e ornamentais da região amazônica e da África. No Passeio há ainda restaurante, parque infantil, pedalinhos, pista para caminhadas, ciclovia e bicicletário.
Saiba mais sobre os macacos do Passeio:
Muriqui do Sul (Brachyteles arachnoides)
É o maior primata não humano do continente americano e um dos mais ameaçados do planeta. Exclusivamente brasileira, a espécie é encontrada apenas na Mata Atlântica dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Este primata é herbívoro e come principalmente folhas. O comportamento do muriqui-do-sul é pacífico e os grupos são organizados e mantidos pelo contato amistoso. Eles estão atualmente submetidos a um alto risco de extinção, principalmente pela histórica fragmentação das florestas em sua área de ocorrência. Os primeiros muriquis chegaram ao Passeio Público em 1997, por uma apreensão de animais ilegais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). O casal Roby e Fernanda vive hoje nesta maior ilha do Passeio Público com seu filhote, que nasceu em maio de 2012.
Macaco aranha preto (Ateles chamek)
Natural da região amazônica do Brasil, Bolívia e Peru. Esses macacos vivem normalmente nos estratos superiores da floresta tropicais, onde encontram maior disponibilidade de frutos maduros, seu principal alimento, sendo importantes dispersores de sementes de um grande número de árvores. Vivem em grupos sociais. Como outros primatas amazônicos, esta é uma espécie ameaçada de extinção pela caça e pela fragmentação do seu habitat natural. O grupo que ocupa a ilha da esquerda do Passeio Público tem dez indivíduos, dos quais três são ainda filhotes.
Sagui de tufo preto (Callithrixpenicillata)
Os saguis-de-tufo-preto são pequenos primatas que ocorrem naturalmente do Nordeste do Brasil até o limite do estado de São Paulo. São bastante procurados e vendidos como animais de estimação quando filhotes, mas, ao tornarem-se adultos, frequentemente são soltos em áreas onde não viviam originalmente. A capacidade de adaptação dos saguis é enorme, resultando em rápido aumento de sua população. Espécie exótica e invasora, causa prejuízos à fauna nativa principalmente pela competição por alimento e pela depredação de ninhos, dos quais se alimenta de ovos e filhotes.