Depois de anos de trabalho, chegar à aposentadoria pode trazer grandes expectativas e representar uma fase desafiadora de vida para muita gente. Na avaliação do médico geriatra Clóvis Cechinel, diretor técnico do Hospital Municipal do Idoso Zilda Arns, no bairro Pinheirinho, buscar um sentido pode ser uma boa forma para aproveitar a vida a partir da aposentadoria.
“Quando a pessoa se aposenta, muitos passam a se movimentar menos, veem mais televisão, diminuem as relações sociais. Isso pode levar à tristeza, à depressão”, resume. Ele ressalta que a forma como cada um vive esta etapa depende muito de como a pessoa é.
O encontro entre a aposentadoria e a fase em que a pessoa está idosa pode coincidir ou não, mas com o passar dos anos, ela vai acontecer. Dos 16,9 mil aposentados ligados ao IPMC (Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Curitiba), mais de 77% são pessoas idosas. O percentual se mantém se considerada a soma dos aposentados e dos pensionistas da Prefeitura de Curitiba: são 19,7 mil pessoas, sendo 15,2 mil acima dos 60 anos.
“Quanto mais otimista e de bem com a vida você é, quanto mais sentido a vida tem pra você, maior a possibilidade de envelhecer de forma saudável e curtir essa fase”, observa o médico.
“Por isso, é importante colocar atividades que deem sentido à vida. É preciso começar a fazer planos dentro das possibilidades de cada um. É preciso trazer qualidade de vida para os anos que você tem”, defende Cechinel, ao destacar como exemplos a participação em trabalhos sociais e a volta aos estudos.
O médico recorda que o período mais grave da pandemia, quando as pessoas idosas precisaram ficar mais isoladas, foi muito difícil para este grupo. “Isso fez muito mal, trouxe depressão, ansiedade, afetou o humor e as funções dos pacientes nesta fase da vida”, lamenta.
Exercícios físicos, alimentação regrada, acompanhamento médico de rotina e para as doenças crônicas, evitar vícios como o tabagismo, o alcoolismo e as drogas, menos estresse, cuidar do sono, ter boas relações sociais e afeto também estão na lista para enfrentar esta etapa. “Tudo parece óbvio, mas é o que precisamos”, declara.
Cechinel lembra que a saúde sexual deve estar no radar das pessoas idosas também. “O idoso tem desejo como qualquer outra pessoa e isso deve ser respeitado. Por outro lado, é preciso alertar que a pessoa idosa deve ter os cuidados necessários para prevenir as doenças sexualmente transmissíveis. Eles também são suscetíveis”, avisa.
Mais afeto, menos etarismo
A família tem papel essencial nessa fase da vida, pois além de promover as relações sociais, agrega afeto. Entretanto, é preciso olhar a pessoa idosa como alguém que é capaz de tomar as suas decisões, fazer as suas escolhas, ter autonomia, dentro do que for possível, fazer as coisas por si.
“Temos que olhar a pessoa idosa com menos preconceito e respeitar mais o que eles querem fazer, aceitar a vontade individual de cada um deles. Enquanto sociedade, devemos evitar o etarismo”, alerta o geriatra. O etarismo ou idadismo é uma forma de discriminação sofrida por causa da idade e que pode comprometer a saúde física e mental de quem sofre esse tipo de preconceito.
“O tempo dessas pessoas é precioso e deve ser aproveitado e vivido da melhor maneira possível. Eu falo para os meus pacientes: você não quer cuidar dos netos porque quer fazer outra coisa, como encontrar os amigos, então diga não aos seus filhos. O idoso não precisa cuidar dos netos”, exemplifica.
Segundo o Estatuto da Pessoa Idosa, as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos são idosas. “Mas hoje uma mulher de 60 anos está fazendo tudo o que todo mundo faz. Ela trabalha, namora, se diverte como todos”, cita o médico. “Quando falo em idoso, eu penso nos 80 anos. Porque aqueles de 60, 70 estão mais para os novos adultos velhos”, compara.
O idoso que eu quero ser
Clóvis Cechinel, que é servidor da Prefeitura de Curitiba desde 2009, explica que o envelhecimento é um processo bastante individualizado e singular e será diferente para cada pessoa em função de diversos fatores que antecedem esta etapa da vida.
“Por isso, precisamos começar a cuidar quando somos jovens e aumentar a nossa poupança de saúde para quando a gente precisar. O idoso que eu quero ser é o quanto eu me cuido e trabalho hoje”, alerta.
Ele lembra que a partir dos 40/50 anos é possível notar diferenças na manutenção do peso e na massa corporal, já que o indivíduo perde massa magra e ganha massa gorda. Além disso, há uma implicação na distribuição da gordura que para homens e mulheres passa a ser acumulada na região central do corpo. “São mudanças que vêm com o passar do tempo e é para todo mundo. De forma saudável ou não, estamos envelhecendo”, afirma.
Cechinel destaca também que, com os anos, as pessoas ficam mais suscetíveis a doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão, dislipidemia (alterações no colesterol), problemas de tireoide, no coração, osteoporose. A recomendação é acompanhar e tratar cada uma delas para não gerar um efeito negativo no futuro.
Ele sugere que cada um reflita sobre a fase da aposentadoria quando, de modo geral, a pessoa ganha menos dinheiro e gasta mais. O processo de envelhecimento tem custos e para que o idoso tenha um tratamento adequado, deve programar-se financeiramente.
A orientação é cuidar de si de forma regular, visitando seu médico quando houver necessidade. “E o mais importante: manter hábitos de vida saudáveis, com boa alimentação, exercícios físicos e evitar estresse”, salienta Cechinel.