A Mocidade Azul apresentará este ano, na avenida, uma comissão de frente que é um "escândalo de linda”. Esse entusiasmo todo é de Ricardo Garanhani, carnavalesco do Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Azul - ou apenas Mocidade, para os quase 500 componentes que, neste 2013, olham para o próprio umbigo, deliberadamente, para cantar o Reino Encantado do Carnaval, enredo de samba composto por Silvio Costa, o Turco.
Garanhani, paranaense de Siqueira Campos radicado em Curitiba e com passagens pelo Carnaval carioca – onde foi “peão de Rosa Magalhães” na Cidade do Samba - é carnavalesco da Mocidade há quatro anos. Tudo começou com um pedido para esculpir um leão. Ao tratar da encomenda, não sabe se “por esperteza, instinto ou destino”, levou junto uma pastinha com amostras de trabalhos realizados. Foi ficando. Desde então, a escola estava no grupo B e passou para o A, foi campeã duas vezes e agora quer o tri.
Com os dedos ainda sujos de cola e carregando pacotes de seda azul e branca – as cores da Mocidade -, o menino que brincava de teatro, montava escola de samba e fazia resplendores de paina em Siqueira Campos não para de atender ao telefone. Faz-tudo, cuida da armação geral para o desfile, desde a costurinha que não ficou bem certa na fantasia até a coordenação das pessoas, ensinando a produzir, produzindo e acompanhando cada movimento, até chegar a hora de entrar na avenida. Ainda apela para a mãe, perita em gerenciar pessoas num restaurante, para dicas de melhor coordenar a turma toda da escola.
Com duas universidades, de Belas Artes e Arquitetura, Garanhani é bailarino da G2 Companhia de Dança, grupo master do Ballet Guaíra. Na Mocidade Azul, ele é peça importante de uma engrenagem que movimenta o carnaval de Curitiba o ano inteiro. A espécie de ópera popular que se desenvolve na avenida, no dia do desfile, é o final de um mutirão que começa muito antes, “desde um mês depois do Carnaval de 2012”, relembra.
Escolhido o enredo, a economia se movimenta com aluguel de espaço, produção de música, de fantasias, de alegorias, de adereços, espetáculos e festas para arrecadar dinheiro, venda de salgados e bebidas na quadra, almoços de domingo durante os ensaios – o ingresso não é cobrado, mas o consumo sim. Garanhani diz que o suporte do samba é a comunidade. “Não temos patrocinadores, são voluntários”, afirma, orgulhoso de provar na prática, no bairro Fazendinha, que “qualquer coisa depende do envolvimento”.
É um ferreiro, um borracheiro, uma costureira auxiliar que a gente conhece. É um amigo que ajuda com a compra de sapatos, cada um se envolve de um jeito e nem quer aparecer, conta ele. O dinheiro vai surgindo, com festa junina, baile de máscaras, ações entre amigos. Ou shows da bateria, às vezes até com a porta-bandeira.
“Ano passado fiz até casamento, a apresentação foi uma surpresa da noiva para o noivo, em Santa Felicidade”, diz a primeira porta-bandeira Fernanda Krystine Souza Barbosa, 19 anos, nascida na escola, pois é filha de Ana Luiza e Marcelo Barbosa e neta de José dos Santos Barbosa, o saudoso Charrão, um dos fundadores da Mocidade Azul, em 1976. Marcelo é ativo na escola, Ana Luiza desfilou muitas vezes, mas agora ajuda a fazer a roupa da filha e marca passo ao seu lado na passagem, para garantir a harmonia. Fernanda diz de boca cheia: carnaval é muita alegria, muita emoção. Para quem gosta, não tem como comparar, com nada.