Dois personagens do petit-pavê
DAIR DA COSTA TERZADO, 90 ANOS
Da entrada do imponente sobrado da Confeitaria das Famílias, onde chegou pouco depois da inauguração, em 1945, a curitibana Dair da Costa Terzado assiste à história da Rua XV há 76 anos, quando ali se instalou. É para lá que ela vai todos os dias de manhã e fica até fechar, de domingo a domingo, cuidando pessoalmente da administração do negócio inaugurado pelo marido, o espanhol Jesus Alvarez Terzado, já falecido.
Foi ali que Dair viu a antiga via se fechar à circulação dos carros e se transformar em calçadão. “Foi um susto. Onde os fornecedores iam estacionar para entregar as mercadorias? E os fregueses: iam continuar vindo?”, perguntava ao marido.
As dúvidas foram dando lugar à rotina, já que os insumos para fazer os famosos doces continuaram chegando, enquanto a clientela se resignou à novidade e passou a parar o carro em locais próximos. Assim, a confeitaria seguiu em frente, sob a aprovação de curitibanos e turistas.
“Adoro esse lugar e não consigo ficar longe. Aqui está a minha vida e não imagino a Confeitaria das Famílias funcionando em outro endereço”, afirma ela.
Dair também lembra com saudade – e sem dificuldade - de antigos estabelecimentos vizinhos de rua: Casa José, Louvre, Casa Londres, Casa da Manteiga, Roskamp e Café Alvorada, que os mais jovens não conheceram.
LUIZ GERALDO MAZZA, 91 ANOS
Entusiasta da iniciativa da implantação do calçadão na Rua XV, o jornalista Luiz Geraldo Mazza considera que a obra rompeu com o lado provinciano do curitibano que queria parar o carro em frente à Confeitaria das Famílias ou do Bar Triângulo.
O avanço foi enorme, lembra, ainda mais se considerarmos que a via recebia tráfego de mão dupla na década de 50. Sem “palco” para suas performances, conta Mazza, a personagem Maria do Cavaquinho parava o trânsito da via sob o estímulo dos estudantes de então. “Foi uma precursora do Lerner”, brinca o jornalista.
Artigo escrito por Mazza para o jornal Folha de Londrina, em que argumentava favoravelmente à então polêmica intervenção urbana, acabou por ser reproduzido em todos os jornais da época e serviu até mesmo de material institucional da Prefeitura de Curitiba.