Em meio aos imponentes edifícios e condomínios do bairro Mossunguê, uma nova luz ilumina a história e a memória da centenária Capela São Grato, construída em 1915 por imigrantes italianos. Localizada na Rua Grã Nicco, 545, e única no Brasil a ter o santo como padroeiro, a charmosa igreja recebeu da Prefeitura de Curitiba novo sistema de iluminação cênica para realçar as formas coloniais e preservar tradições que ainda perduram em meio à modernidade e verticalização do bairro.
A Paróquia de São Grato resistiu ao tempo e ao avanço do concreto, mantendo-se como símbolo de fé e cultura na região. Erguida em um bairro que, no passado, era apenas um campo de cultivo para os imigrantes vindos da região do Vêneto, hoje está rodeada por grandes edificações que contrastam com a fachada simples e acolhedora da capela. O local é considerado pelo município uma Unidade de Interesse de Preservação (UIP).
“A nova iluminação cênica vai além de um gesto de modernização, é um cuidado especial, e nossa reverência ao passado que moldou a Curitiba de hoje”, afirma o prefeito Eduardo Pimentel.
O novo sistema utiliza tecnologia LED, proporcionando maior eficiência e menor custo energético. A escolha dos equipamentos, além de eficaz e sustentável, foi planejada para destacar a beleza do santuário sem descaracterizá-lo.
Segundo o padre Osmair José Prestes, pároco local, a história da Capela São Grato, que remonta à devoção dos imigrantes italianos, continua viva e, com a nova iluminação cênica, é ainda mais valorizada.
“Luz é Cristo, luz nos traz a esperança de viver, dissipa as trevas e nos concede a essência da nova vida. Eu e todos os paroquianos estamos muito felizes com esse cuidado do município com a nossa capela”, afirma o padre Osmair.
Novos equipamentos
No total, 18 barras de LED de 36W foram embutidas no piso para projetar a luz de baixo para cima, equilibrando os efeitos de luz e sombra nas paredes e valorizando os detalhes arquitetônicos da capela. Um projetor de LED de 15W no alto da capela ilumina a cruz, um símbolo cristão de comunhão entre o céu e a terra. Já na torre, 12 projetores de 15W garantem que o topo da capela também receba o devido destaque.
Luiz Fernando Jamur, secretário municipal de Obras Públicas de Curitiba, ressalta a importância da ação.
“O cuidado com a iluminação cênica vai além de embelezar a cidade. Estamos respeitando a história de Curitiba, valorizando o patrimônio e incentivando a população a se reconectar com seus espaços históricos, gerando bem-estar e cultura”, destaca Jamur.
Espetáculo visual
O projeto de iluminação cênica faz parte das ações da Prefeitura em parceria com a Engie, empresa responsável pela concessão da iluminação pública, para valorizar os marcos históricos e turísticos da cidade.
A escolha das cores de luz segue um critério técnico e artístico, que varia conforme o tipo de edificação. Para a Capela São Grato, cores quentes foram escolhidas para destacar a arquitetura colonial rural, contrastando com os monumentos modernos da cidade, que são iluminados com tons mais frios.
Moradora do Mossunguê há 50 anos, a empresária Siomara Schunemann Cordeiro viu de perto o crescimento do bairro, que tem raízes nas famílias italianas Juglair e Nico — responsáveis por trazer a devoção a São Grato e erguer a capela que leva o nome do santo.
“A nova iluminação valoriza ainda mais esse espaço tão importante para nossa história e para as famílias que ajudaram a construir o Mossunguê”, afirma Siomara.
Leonides Borsa, aposentado, morador do bairro e coordenador do Conselho de Assuntos Econômicos Paroquiais da capela, acredita que, além de tornar a igreja mais bonita, a nova iluminação servirá para chamar a atenção dos moradores da região.
Leonides Borsa, aposentado.
“Por estar rodeada por grandes prédios, a igreja acaba escondida e muitos novos moradores do bairro ainda não a conhecem. A nova iluminação vai dar destaque e acho que até servirá como um convite para novos paroquianos”, comenta Borsa.
Sobre o bairro
O bairro Mossunguê, que em tupi-guarani significa “lugar agitado”, reflete a rápida transformação que Curitiba experimentou nas últimas décadas. A história da capela é também a história do bairro, que hoje é um modelo de desenvolvimento, mas que teve um longo caminho percorrido pelos imigrantes italianos até sua consolidação. O Mossunguê, que no século 19 era uma região agrícola, hoje está entre os bairros com maior crescimento populacional.
A região surgiu ao longo do antigo Caminho do Mato Grosso, atual BR-277, que, na época, era a única via de acesso ao Norte do Estado. Foi nesse local que famílias italianas vindas do Piemonte escolheram se estabelecer, cultivar a terra e abrir armazéns. São Grato, padroeiro da agricultura e conhecido por “acalmar tempestades”, tem uma imagem na capela que foi trazida da Itália para Curitiba em 1887 e, inicialmente, colocada em uma primeira capela, que ficava na Rua Francisco Juglair.
A mudança da capela para a Rua Grã Nicco aconteceu 28 anos depois, em 1915. Em 2000, uma nova edificação foi construída anexa à capela. Com isso, o pequeno templo, que pertencia à Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Campo Comprido, foi elevado ao status de paróquia.