Um dos concertos mais interessantes da 40ª Oficina de Música de Curitiba aconteceu na noite de sábado, no Cine Passeio. O pianista paulistano Guilherme Almeida apresentou um cine concerto, com a execução ao vivo de uma trilha sonora para o filme mudo “Sunrise” (Aurora, 1927), do diretor alemão Friedrich Murnau. O mais inusitado e o que causou mais admiração do público é que todo o acompanhamento, em mais de uma hora e meia de filme, foi feito de improviso.
Diante da surpresa da plateia, quando ele contou que assistiu ao filme apenas duas vezes antes do concerto e nenhuma partitura ou roteiro foi previamente pensado, Guilherme explicou que a própria improvisação musical sobre uma imagem é fruto de muito treinamento. O músico estuda essa modalidade musical no Conservatório de Paris e veio para a Oficina de Música para ministrar o inédito curso “Improvisação e imagem: criação e organização do discurso sonoro em diálogo com filmes mudos”.
Referências
Em total sintonia com as cenas do filme, Guilherme criou uma trilha perfeita, autoral, mas com inúmeras referências. “Coloquei baião, jazz, Beyoncé, Boulez, citei harmonias de vários compositores famosos, fabriquei outros timbres no piano sugerindo outros instrumentos, escolhi onde colocar os silêncios. É uma responsabilidade muito grande como artista e músico. Lidar com o dinamismo da improvisação e com a imagem, é uma prova de fogo”, reconhece.
Guilherme conta que já viu mais de 300 filmes mudos nessa trajetória tão peculiar, que o fez também adquirir muitos conhecimentos sobre cinema. Segundo ele, o volume de produção cinematográfica do início do século 20 (filmes ainda sem som e sem cor) é imenso. Eles fazem parte do seu treinamento. Por isso, assistir às cenas uma ou duas vezes já seria o suficiente para lhe trazer a carga de inspiração, sem falar na sua habilidade de deixar os olhos fixados muito mais tempo na tela do que no piano.
A escolha de “Sunrise” para a Oficina de Música tem a ver com a importância do filme. Murnau foi um dos principais realizadores da época do cinema mudo e um expoente do expressionismo alemão. O filme foi o primeiro realizado por Murnau em Hollywood, ganhou três Oscars e ficou para a história como uma das obras-primas do cinema mundial. Trata-se de um romance, mas com uma série de referências às fragilidades humanas.
Artista excepcional
Quem assistiu à performance de Guilherme Almeida, na lotada Sala Luz do Cine Passeio, teve uma oportunidade de conhecer a criatividade e o talento de um artista excepcional, que diz nunca ter tocado uma música de Chopin, mas que conquistou o primeiro lugar no Concurso Internacional de Piano de Moscou, improvisando a partir do título “Reminiscências de uma estrela assassinada”.
“Achei fantástica a habilidade dele com a improvisação. Eu imaginei que haveria um ponto de partida – não uma composição completa, mas que tivesse ao menos algum roteiro. E o mais incrível é que ele assistiu ao filme apenas duas vezes. Então é uma habilidade incrível, diferente de tudo o que eu já tinha visto antes”, comentou a professora de história da arte e da moda, Andréia Lisboa de Miranda. Assim como Andréia, muitos espectadores, durante o bate-papo final com o artista, elogiaram Guilherme pela apresentação.
Na próxima terça-feira (31), às 19h, no Cine Passeio, Guilherme Almeida e seus alunos do curso de Improvisação e Imagem também farão apresentações, realizando performances individuais e coletivas.
Confira a programação completa da 40ª Oficina de Música de Curitiba no site Guia Curitiba