De beleza arquitetônica única e guardião da memória da história oficial da capital paranaense, o Paço da Liberdade completa, nesta segunda-feira (24/2), 109 anos de sua inauguração. Primeira sede da Prefeitura de Curitiba, abriu as portas em 1916, época em que não era usual os poderes públicos municipais brasileiros terem uma casa fixa.
Hoje é um espaço cultural mantido pelo Sesc PR e um dos ícones da arquitetura em Curitiba. E volta a ter protagonismo ao receber as decisões sobre a cidade com a presença de um prefeito. Eduardo Pimentel tem utilizado uma das salas do espaço como espécie de “gabinete estendido” em uma parceria da prefeitura com o Sistema Fecomércio Sesc PR. Lá, Pimentel já assinou o decreto que criou o Plano de Redesenvolvimento do Centro, lançado em 6 de fevereiro, e também lançou a Operação Centro Seguro.
E fará isso a cada 15 dias, levando o Poder Executivo municipal de volta para sua primeira sede, na Praça Generoso Marques.
“O Centro é o coração da cidade e nós vamos devolvê-lo para as famílias curitibanas. Vou despachar uma vez a cada 15 dias dentro do Paço da Liberdade, só para atender às demandas do Centro e para mostrar a força e a intenção do que nós queremos fazer”, anunciou Eduardo Pimentel.
A decisão do prefeito de despachar tanto no Palácio 29 de Março, no Centro Cívico, quanto no Paço da Liberdade, é para atuar mais próximo da população que mora, trabalha e circula pelo Centro e será diretamente beneficiada pelo Plano de Redesenvolvimento da região.
O projeto, que é intersetorial e será executado durante os próximos quatro anos, vai devolver a segurança, a beleza, a pujança do comércio e a reocupação de moradores do bairro mais movimentado de Curitiba.
Gabinete estendido
Eduardo Pimentel vai ocupar a Sala Cândido de Abreu, no segundo andar da edificação. A sala escolhida leva o nome do prefeito que determinou a construção do Paço, para abrigar a Prefeitura e a Câmara Municipal. Engenheiro por profissão, Cândido de Abreu também projetou o edifício, inaugurado como Paço Municipal.
Fim da itinerância
O historiador e diretor de patrimônio cultural da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Marcelo Sutil, explica que, à época da construção do Paço, ainda não era habitual as cidades terem um local fixo para os poderes Executivo e Legislativo e a capital paranaense foi uma das primeiras do país nessa realização.
Marcelo Sutil, historiador e diretor de patrimônio cultural da Fundação Cultural de Curitiba (FCC).
“A construção do Paço deu novo significado ao Centro. A sede da Prefeitura em si foi muito importante, mas sua entrega contribuiu para modernizar o entorno, o que ainda pode ser visto nos prédios em seu redor”, explica Marcelo Sutil.
Até então, a administração pública da cidade era itinerante, ocupando salões de igrejas e prédios alugados na Praça Carlos Gomes. Chegou até a dividir espaço com a cadeia pública.
Âncora
Conheça as curiosidades sobre o Paço Municipal
- O Paço foi inaugurado em 24 de fevereiro de 1916, como Prefeitura e Câmara Municipal de Vereadores, no espaço antes ocupado por um Mercado Municipal;
- A edificação tem 3 pavimentos e uma área construída de 2.103,70 m²;
- Eduardo Pimentel é o 43° prefeito a despachar do Paço, 56 anos depois do alcaide Omar Sabbag;
- Sabbag deixou o Paço em 1969, quando inaugurou a atual Prefeitura, no Centro Cívico;
- A partir de 1969, o Paço sediou o Projeto Rondon e o Museu Paranaense (entre 1974 e 2002);
- O engenheiro e então prefeito Cândido de Abreu foi quem fez o projeto para a construção da primeira sede da Prefeitura, com apoio do arquiteto francês Roberto Lacombe, que realizou algumas das esculturas;
- Sua arquitetura tem detalhes neoclássicos e desenhos art-nouveau. A obra utilizou alvenaria de tijolos, com base de blocos em concreto e cantaria (técnica milenar que esculpe pedras para formar estruturas sólidas e duráveis);
- As paredes do antigo Mercado Municipal que ocupava a área foram usadas como tapume para a construção do Paço;
- Sua construção, entre 1914 e 1916, foi feita em 1 ano e meio (560 dias). Já a recuperação de toda a edificação, entregue em 2009, levou um pouco mais de tempo: 1 ano e 9 meses (642 dias);
- A edificação abriga o primeiro elevador elétrico da cidade de Curitiba. Adquirido em 1915, só começou a operar em 1922. Hoje, está fora de operação, e pode ser contemplado por visitantes;
- O atual nome, Paço da Liberdade, foi dado pelo prefeito João Kracik Neto em 1948, pós 2ª Guerra Mundial;
- A entrada principal é de frente para a Praça Generoso Marques e da estátua do Barão do Rio Branco, monumento que dava as boas-vindas aos recém-chegados em Curitiba;
- A entrada secundária, nos fundos, está voltada para a Praça José Borges de Macedo e escultura de Erbo Stenzel, com nome de “Água pro morro”, mais conhecida como “Maria lata d’água”;
- Na entrada principal do prédio, dois atlantes (coluna esculpida em forma humana) do herói da mitologia grega Hércules. Um, mais jovem, representa o Poder Executivo; outro, mais velho, o Legislativo;
- Na torre da fachada frontal, logo abaixo do relógio, a figura feminina representa a personificação da cidade de Curitiba. A torre ganhou, na construção original, para-raios e farol;
- Destaque arquitetônico no interior do Paço, a escada foi construída de peroba rosa e em espiral. A madeira veio do litoral paraense e compõe quatro lances que somam 82 degraus;
- A modernidade se mostrava na instalação de uma central telefônica interna para várias linhas interligadas da Prefeitura;
- Nos primeiros anos da década de 1970, passou por uma primeira restauração. A maior dificuldade foi recuperar a cobertura, originalmente feita em telhas de fibrocimento, importadas da Bélgica;
- A partir de 2002, passou por cinco anos de abandono e degradação. Uma parceria da Prefeitura com a Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio) possibilitou a recuperação do local com suas características originais, com início da reforma em 2007;
- O Paço foi reaberto em 2009, como um centro cultural administrado pela Fecomércio/Sesc/PR, com biblioteca, sala de exposições e café-escola;
- O Paço ocupa posição de destaque na Praça Generoso Marques, que tem no seu entorno casarões históricos, como a Casa Edith, que até hoje vende chapéus, e o Palacete Tigre Royal, antiga residência da família libanesa Fatush;
- O Paço é declarado Unidade de Interesse de Preservação (UIP); tombado como Patrimônio Histórico do Estado do Paraná e Patrimônio Histórico Nacional (Iphan);
- Durante a restauração iniciada em 2007, foram encontrados pedaços de piso do antigo Mercado Municipal, que foram preservados e podem ser vistos por vidros colocados no piso atual.
- Essa reforma completa usou 364 litros de tinta para refazer as pinturas originais de 3 mil m² de paredes. Foram utilizados 1,7 mil m² de madeira para a restauração de portas, janelas, tetos, escadarias e molduras.