Neste dia 13 de janeiro, Curitiba celebra a memória de duas figuras históricas que, nascidas na mesma data e marcadas por contextos distintos, deixaram contribuições essenciais para a cidade e para o Brasil. André Rebouças, nascido em 1838, e Enedina Alves Marques, em 1913, são símbolos de resistência, pioneirismo e transformação, enfrentando as barreiras impostas pelo racismo e pelas desigualdades estruturais de suas épocas.
André Rebouças: o engenheiro abolicionista e sua contribuição para Curitiba
Engenheiro de renome e defensor da abolição da escravatura, André Rebouças encontrou em Curitiba, no final do século 19, um refúgio e um espaço para continuar sua luta por igualdade e progresso. Após a Proclamação da República, que ele considerava uma traição aos ideais de justiça pelos quais lutara, Rebouças se estabeleceu na capital paranaense, onde contribuiu com projetos de infraestrutura urbana e participou ativamente dos debates intelectuais locais.
Rebouças foi um símbolo de inspiração, desafiando as normas sociais de sua época e mostrando que a determinação podia transcender as barreiras impostas pelo racismo estrutural. Sua trajetória na cidade permanece como um marco da luta por justiça e inclusão.
- Contribuições Técnicas: Rebouças era um engenheiro de renome, tendo participado de projetos importantes em várias partes do Brasil. Em Curitiba, ele trouxe sua experiência em engenharia hidráulica e ferroviária, áreas cruciais para o desenvolvimento da cidade no período. André Rebouças foi o idealizador da estrada de ferro que liga Curitiba a Paranaguá, no Paraná, e que foi construída entre 1872 e 1885. A obra foi realizada em parceria com o seu irmão Antônio, também engenheiro. A ferrovia, com 110km de extensão, é uma das maiores obras de engenharia do Brasil.
- Inspiração Social: Como um negro que ocupava um lugar de destaque intelectual e profissional, sua figura era uma inspiração para os afrodescendentes em uma sociedade altamente hierarquizada e racista.
- Legado de Justiça: Ele simbolizava a luta pela abolição da escravatura, uma causa que repercutiu em Curitiba, cidade que também recebeu afrodescendentes libertos em busca de melhores condições de vida.
Enedina Alves Marques: pioneira e referência para a população negra
Décadas depois, Curitiba seria o berço de outra figura histórica: Enedina Alves Marques, a primeira mulher negra a se formar em Engenharia Civil no Brasil. Após concluir o curso na Universidade Federal do Paraná, em 1945, Enedina tornou-se uma referência tanto pela excelência profissional quanto pela superação das barreiras de gênero e raça em uma área dominada por homens brancos.
Seu legado em Curitiba ganhou ainda mais destaque com a criação do Centro de Referência Afro Enedina Alves Marques (Creafro), inaugurado em 29 de novembro de 2023. O órgão, vinculado à Secretaria da Mulher e Igualdade Étnico-Racial, é um marco no acolhimento e atendimento à população negra da cidade, oferecendo suporte psicológico e jurídico às vítimas de racismo, intolerância religiosa e xenofobia, além de realizar encaminhamentos para outros serviços da Prefeitura.
Visita às futuras instalações do Creafro
Para marcar a data, o prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel, visitou as obras das futuras instalações do Creafro, na esquina da Rua Duque de Caxias com a Paula Gomes, no bairro São Francisco, acompanhado da secretária municipal da Mulher e Igualdade Racial, Marli Teixeira. Atualmente, o Creafro funciona em uma sede provisória na Rua Barão do Rio Branco, 45, no Centro.
“Nós vamos entregar esse espaço nos próximos meses e será um grande centro de atendimento e acolhimento a quem sofre algum tipo de preconceito ou intolerância religiosa, focando a população afro. É o respeito a todos na cidade de Curitiba. Curitiba é uma cidade de todos”, declarou Pimentel
A secretária Marli Teixeira reforçou o compromisso da equipe. “Nossa equipe está bastante animada, trabalhando para que Curitiba seja cada vez mais inclusiva. Queremos que todas as pessoas que se sentirem discriminadas possam vir aqui e serem acolhidas, inclusive em questões de intolerância religiosa. Este equipamento será um espaço de acolhimento e promoção da diversidade. A Secretaria da Mulher e Igualdade Racial tem muita programação prevista, especialmente no Mês da Mulher, em março. Estamos juntos nessa missão.”
Em pouco mais de um ano de funcionamento, o Creafro realizou 970 atendimentos, com destaque para o serviço de psicologia, que registrou 245 consultas individualizadas. Além disso, o espaço promove rodas de conversa e exposições temáticas abertas a toda a comunidade, fortalecendo o diálogo e a conscientização sobre igualdade racial.